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Em Teresópolis, a topografia acidentada é um convite a problemas

postado em 13/01/2011 09:24
A falta de planejamento urbano, aliada à intensidade das chuvas e ao terreno montanhoso, ocasionou a maior catástrofe da história de Teresópolis, na região serrana do Rio de Janeiro. Dezenas de casas construídas em áreas íngremes e no pé dos morros foram arrastadas pela força das águas entre a noite de terça-feira e a madrugada de ontem. Rios e córregos transbordaram e atingiram as casas construídas na região ribeirinha. Pelo menos 130 pessoas morreram na cidade, que, segundo o mais recente Censo, tem 159 mil habitantes.

Teresópolis está situada em uma região densamente montanhosa, onde não raramente as chuvas causam estragos e destroem residências. De acordo com o engenheiro cartográfico Amauri Destri, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), por se tratar de uma região de topografia acidentada, Teresópolis é uma cidade sempre sujeita a desastres como o de ontem. Ele alerta, porém, que a tragédia poderia ter sido evitada, caso as construções em áreas impróprias fossem impedidas.

Destri explica que medidas paliativas, como drenagens e a contenção de encostas, seriam suficientes para amenizar o impacto das chuvas. ;Os problemas são naturais da região montanhosa. Não há agravantes relacionados ao solo, a não ser as ocupações de regiões de risco;, disse. O especialista explicou o que aconteceu na região: ;A água caiu, encharcou o terreno, que então ficou pesado e fatalmente caiu. É a lei da gravidade;, detalhou. Um grupo de trabalho sobre enchentes da UFRJ deve concluir até o fim do mês uma proposta para amenizar os impactos das chuvas nas regiões de encosta de todo o estado.

Não só os bairros da periferia foram devastados pela enchente, mas também condomínios nobres da cidade. Segundo uma agente da Defesa Civil municipal, ;muitas residências de pessoas de classe alta foram atingidas;. O chefe da administração da Defesa Civil, tenente Henrique Estevam, afirmou ao Correio que, por volta das 20h de ontem, havia centenas de pessoas ilhadas e corpos para serem resgatados em pelo menos três bairros de Teresópolis. Ele disse também que havia localidades sem o abastecimento de luz e água.

De acordo com o tenente, chegou a chover 190 milímetros no período de 22h de terça-feira até as 5h da madrugada de ontem nos locais mais afetados pelo temporal. A quantidade, segundo ele, é equivalente ao que choveria em 20 dias no mês de janeiro, época mais chuvosa na região.

Um efetivo de 800 homens da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros foi deslocado para Teresópolis. A prefeitura reservou dois abrigos para os desalojados e desabrigados: o Ginásio Pedrão, no centro da cidade, que tem capacidade para 800 pessoas, e um galpão no bairro de Meudon, preparado para receber até 400 pessoas.

Memória

Nos últimos anos, o país foi vítima ; de norte a sul ; de algumas tragédias semelhantes às de ontem na região serrana do Rio. Sintoma de que a prevenção não faz parte das prioridades nacionais, no que diz respeito a problemas do gênero.

Santa Catarina - 2008
Em 22 de novembro de 2008, o governador de Santa Catarina decretou situação de emergência devido aos estragos causados pelas chuvas no estado. Poucos dias depois, o total de mortes causadas por enxurradas, enchentes e deslizamentos de terra que devastaram cidades inteiras, chegou a 135. Mais de 30 mil pessoas perderam suas casas e tiveram que ser abrigadas em alojamentos do governo ou recorrer à ajuda de parentes e familiares. Um terço do território catarinense foi atingido pela força da água: 77 municípios acabaram afetados, sendo que 14 deles chegaram a decretar calamidade pública.

Angra dos Reis - 2010
O primeiro dia de 2010 foi marcado pelo enorme desabamento de terra que ocorreu em Angra dos Reis. A tragédia começou quando, durante a madrugada de réveillon, uma pousada e sete casas vizinhas foram soterradas por um barranco na praia do Bananal. Mais de 40 pessoas morreram. A chuva também causou os mesmos efeitos no Morro do Carioca ; 20 casas foram atingidas pelo desabamento de terra, com 17 mortes. Cerca de 65% da população do município mora em áreas de encosta. Na ocasião, mais de 200 casas foram interditadas e 900 pessoas ficaram desabrigadas.

Já em abril do mesmo ano, um desastre revelou o descaso do governo com moradores do Morro do Bumba, em Niterói. A ocupação descontrolada em uma área que funcionava antes como depósito de lixo, combinada à intensidade de chuvas na região e duas fissuras na grande rocha que sustentava o morro, causou o deslizamento de terra que arrastou as casas de centenas de moradores e matou mais de 50 pessoas. Os riscos de deslizamento na região eram conhecidos, mas nada foi feito para prevenir o acidente. Mais de 100 pessoas morreram e 7 mil pessoas ficaram desabrigadas no município naquele período.

Pernambuco/Alagoas - 2010
Em junho, uma forte enxurrada varreu mais de 80 municípios do Nordeste. Os estados mais atingidos foram Pernambuco e Alagoas, onde mais de 50 pessoas morreram. Em Pernambuco, 14 mil casas foram destruídas deixando 81 mil pessoas desabrigadas. As vias de acesso da região também acabaram atingidas, sendo que mais de quatro mil quilômetros de estrada e 142 pontes, pontilhões e passagens molhadas foram destruídas. A força da água foi comparada a um tsunami pelos moradores.


Família devastada

Rio de Janeiro ; A estilista Daniela Conolly, 39 anos, além de sete parentes morreram ontem no deslizamento de terra que atingiu a região serrana do Rio de Janeiro. A família estava reunida em um sítio no Vale do Cuiabá, em Itaipava, para comemorar o aniversário de Armando Conolly, pai de Daniela, que também não sobreviveu à tragédia.

Além do pai da estilista, morreram a mãe, Kitty; o marido, Alexandre França; o filho João Gabriel, de dois anos; e a babá; e também os três sobrinhos, filhos do economista Erick Conolly, que é irmão de Daniela e estava na capital fluminense a trabalho. A mulher, a sogra e a filha mais velha de Erick sobreviveram. Elas foram resgatadas de helicóptero e estão hospitalizadas no Copa D;Or, na capital.

No sítio de propriedade de Ângela Gouvêa Vieira, cunhada da vereadora Andréa Gouvea (PSDB-RJ), oito pessoas morreram. A família Gouvêa Vieira é considerada uma das mais tradicionais e ricas do Rio de Janeiro. Uma tromba d;água inundou a área do vale e as vítimas, que ficaram presas dentro da casa, morreram afogadas.

Formada em design gráfico nos Estados Unidos, onde morou por oito anos, Daniela começou a carreira na moda bordando camisetas. Ela trabalhou na Sony Music e também participou do projeto da programação visual da semana de moda nova-iorquina. Daniela ficou conhecida no país após o lançamento de sua grife, Koolture, no Fashion Rio em 2005. E em 2009 encerrou a marca e voltou a trabalhar com direção de arte.

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