postado em 13/01/2011 15:54
A tragédia na região serrana do Rio de Janeiro talvez não pudesse ser evitada, porque o volume de chuvas que atingiu os municípios da área foi muito grande, mas se tivessem sido tomadas medidas preventivas adequadas, o número de mortes em consequência das inundações, dos deslizamentos de terra e dos desabamentos poderia ser bem menor. A avaliação é do presidente do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ), Agostinho Guerreiro.De acordo com ele, o país conta com diagnósticos feitos por inúmeros especialistas sobre os perigos de se construir em locais irregulares, soluções técnicas e recursos para reduzir o déficit habitacional e evitar que a população construa suas casas em áreas de risco. O assunto, no entanto, segundo Guerreiro, não foi tratado como prioridade pelos governos pelo menos nos últimos 30 anos.
;Essa tragédia está em gestação há décadas porque toda a Mata Atlântica vem sendo destruída ali e isso é fatal, principalmente em regiões serranas. Quando descoberta parte do terreno, [a água da chuva] arrasta lama, pedra, terra. É evidente que houve uma chuva muito grande, mas os prejuízos poderiam ser muito menores se houve manutenções preventivas, cuidado com a natureza, evitar a urbanização como foi feita, construindo em lugares de risco, tirando árvores e colocando no lugar residências;, afirmou.
Ele defende que o processo de liberação de construções seja mais rigoroso por parte das prefeituras em todo o país e que as autorizações só sejam concedidas mediante laudos geotécnicos criteriosos garantindo a ausência de riscos. ;A maioria das prefeituras está desaparelhada, com poucos técnicos, mas isso é fundamental para evitar mortes;, acrescentou.
Segundo o presidente do Crea-RJ, esses problemas são verificados em todo o país, já que todos os anos há ocorrências de tragédias semelhantes em diversas regiões. Para ele, a chave para evitar tais catástrofes está no ;planejamento sistemático, governo após governo, a médio e longo prazos;.
Guerreiro também destacou que é preciso reduzir de forma definitiva o déficit habitacional no país, de quase 10 milhões de moradias, com ampliação dos investimentos na questão habitacional. ;As verbas emergenciais que aparecem após os desastres são importantes para evitar mais mortes e resolver a situação na hora, mas não o problema do próximo verão. O sobrevivente da tragédia deste ano pode ser a vítima do verão seguinte;, alertou.
Agostinho Guerreiro também acredita que o país tenha recursos suficientes para investir nessa área. ;Na década de 80, os governos podiam usar o argumento de falta de recursos porque o crescimento da economia brasileira era praticamente inexpressivo, mas, nos últimos anos, temos crescido num ritmo importante, também temos os recursos do pré-sal e de outros eventos da economia;, enfatizou.