postado em 15/01/2011 09:03
Se a quantidade de vítimas das chuvas na região serrana do Rio de Janeiro deixa o país em estado de choque, os familiares ; tanto os que estão perto da tragédia quanto os que estão longe ; entraram em angústia e desespero. Enquanto muitos já conseguiram identificar parentes em listas de falecidos divulgadas pelas prefeituras dos municípios mais afetados, outros ainda buscam por notícias, sem descanso. É o caso da jornalista Daniele Barreto, 28 anos, cujo drama foi apresentado ontem pelo Correio. Moradora de Brasília, ela procura informações sobre o pai, a tia e os avós. O pai, o militar da reserva e advogado Hélio da Rocha Barreto, 63 anos, mora no bairro de Conselheiro Paulino, um dos mais atingidos da cidade de Nova Friburgo.Daniele passou a sexta-feira em casa, buscando informações das mais diversas formas sobre a família, que não dá notícias desde a enxurrada que devastou a cidade na noite de terça-feira. O bairro dos parentes está parcialmente isolado e sofre com a falta de luz e de telefone. ;Vi a lista de mortos que divulgaram, mas não encontrei o nome de nenhum parente. Passei uma foto do meu pai para pessoas que estão lá, também divulguei no Facebook e no Twitter, mas, por enquanto, não consegui nada;, lamenta Daniele.
Em Brasília, outras pessoas já conseguiram o alento de ter notícias dos familiares, depois de passarem pelo drama de não ter contato com os parentes até então ilhados pela chuva e pela falta de comunicação. A funcionária pública Adriana Pereira de Mendonça, 41, ficou três dias sem informações dos pais, da irmã e dos dois filhos (de 2 e de 5 anos) que estão em uma casa na área rural de Nova Friburgo. Na quinta-feira à noite, ela recebeu a ligação de um vizinho dos pais, dizendo que eles estão bem, porém ilhados.
;Foi a melhor ligação da minha vida. Antes, eu era pura angústia. Agora, estou ansiosa porque não sei como fazer para pegar os meus filhos. Quero ir para lá, mas preciso ir com logística, até levando mantimentos no carro para quem precisa. Mas até agora, todas as pistas estão interditadas, e o helicóptero ainda não chega devido ao mau tempo;, conta Adriana. Ela ainda não conseguiu falar com os familiares e disse que só teve notícias porque o vizinho se arriscou por estradas alternativas. ;Não tem luz, não tem telefone. A sorte é que eles estão em um sítio que tem água nascente e, espero, uma reserva de comida.;
Pura lama
A aposentada Eunice Ramos, 73 anos, também ficou três dias sem nenhuma notícia da irmã e da mãe, que estão em Nova Friburgo. ;Uma sobrinha que está na capital me ligou e disse que elas estão bem, mas com problemas de falta de água e luz. Os telefones lá estão todos sem funcionar e não consegui falar com ninguém;, diz. Moradora do Cruzeiro, Eunice esteve na cidade em novembro e custa a acreditar nas imagens vistas pela televisão. ;Aquela avenida principal de Friburgo, que era uma beleza, agora é pura lama. A sorte da minha família é que elas estão em uma região mais alta. Mas fiquei muito preocupada;, disse.
Nas cidades com maior número de vítimas (Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis), os moradores continuaram, ao longo da sexta-feira, fazendo filas na frente das prefeituras em busca de listas e informações de familiares.