postado em 15/01/2011 10:55
Teresópolis (RJ) - O sofrimento dos moradores de bairros mais afastados do centro de Teresópolis, como Vieira e Bonsucesso, passa praticamente despercebido das autoridades até o momento. Enquanto a área urbana da cidade recebe um grande volume de recursos ; pessoal, veículos de apoio e até helicópteros -, a zona rural sofre com abandono.Na localidade de Vieira, a 35km do centro, são os próprios moradores que estão limpando a lama que invadiu a pista da RJ-130, obstruída por mais de 20 quedas de barreiras. Eles também ajudam uns aos outros a carregar os poucos móveis e objetos que escaparam da fúria do riacho, que de uma hora para outra se transformou em um rio caudaloso e barrento.
A imagem na localidade é de destruição por toda parte, com pontes derrubadas e dezenas de casas em ruínas. Vieira está há três dias sem energia elétrica e sem qualquer tipo de telefonia. Não há qualquer comunicação com a sede do município. O atendimento à população é feito na Igreja Santa Luzia, onde os desabrigados recebem roupas, alimentos e atendimento médico.
A aposentada Carolina da Silva, 73 anos, chegou ao local com pressão alta, ainda em consequência da noite de terror que passou na madrugada da última quarta-feira. A água invadiu a casa e para não morrer ela se agarrou, com o filho, em uma viga da varanda. ;Quando dava um relâmpago, via os corpos passando rio abaixo;, lembrou Carolina.
O jovem Danilo de Oliveira Lourenço, 13 anos, também teve a casa invadida pelo rio, no bairro de Bonsucesso, vizinho a Vieira. Depois de ser tragado pela correnteza, ele conseguiu se agarrar no galho de uma árvore até a água baixar. Mas o irmão de 5 anos continua desaparecido. ;A minha casa acabou, só sobrou a cozinha;, contou Danilo, que ainda espera encontrar vivo o único irmão.
A cozinheira Sandra da Silva, que morava à beira do rio, fez questão de mostrar o que restou de sua casa, invadida por quase 2m de água. Todos os móveis foram cobertos por lama, não restando praticamente nada. Depois de ficar com água até o peito, ela conseguiu sair e salvar a filha de 14 anos. Quando as águas baixaram, ela conseguiu voltar, mas se deparou com um corpo na cozinha. Enquanto ela falava com a Agência Brasil, um vizinho acabava de matar uma jararaca de 1,5m no quintal.
Na casa ao lado, o drama da costureira Eunice da Silveira Gomes era a perda de sua confecção, de onde tirava o sustento da família. Máquinas de costura, mesa de corte e toda a produção de roupas foram arrasadas pela lama do rio. Ao lado da residência, ela encontrou um cavalo morto. ;Ainda não veio ninguém da prefeitura aqui para ajudar. Não tenho dinheiro para recomeçar o negócio e não sei o que vou fazer daqui para frente;, disse Eunice.
Segundo estimativa dos bombeiros, ainda há 40 pessoas desaparecidas em Vieira. O último balanço da prefeitura, na noite de sexta-feira, apontou 131 mortos, com 1,2 mil desabrigados e 1,3 mil desalojados.