Brasil

Alteração no curso dos rios na região serrana do RJ complica reconstrução

postado em 20/01/2011 08:15
Ocupações mal planejadas de terrenos podem levar a tragédias como a ocorrida na região serrana do Rio de Janeiro na última semana. Mas há uma nova preocupação em relação à reconstrução do local. Muitas vilas não poderão ser reocupadas após a devastação causada pelas chuvas. ;Deve-se fazer um mapeamento e identificar as áreas de encontros de montanhas, que são prováveis pontos de deslizamentos. Em hipótese nenhuma elas podem ser habitadas;, explica o secretário executivo da Associação Brasileira de Mecânica do Solo e Engenharia Geotécnica, Carlos Medeiros.

Medeiros esteve em Nova Friburgo para acompanhar o trabalho das equipes de resgate às vítimas dos deslizamentos. Segundo o geotecnicista, vidas teriam sido poupadas caso houvesse um sistema para alertar sobre as chuvas. ;O que aconteceu foi imprevisível, mas a implantação de sistemas de investigação de risco teria evitado uma tragédia desta proporção.;

Mesmo após o trauma de ver a vida destruída com a força da chuva, moradores da cidade preferem ignorar o alerta de especialistas e tentam retomar a rotina onde moravam. A costureira Eunice da Silveira Pontes, moradora de Vieira, bairro de Teresópolis, teve a casa alagada e, quando o nível da água baixou, viu o córrego que passava atrás de seu terreno transformado em um rio. Mesmo com o risco de ter o local novamente inundado, ela voltou para casa, onde permanece com o marido. ;Vou ter que começar do zero, mas vou conseguir;, diz. Para o geotecnicista, reocupar as regiões de risco deve ser a última alternativa. ;Onde não for possível retirar famílias, aí sim, fazer obras de engenharia ; que são caríssimas ; e criar mecanismos para fazer com que a população se retire ao menor alerta de risco;, explica.

A situação do solo na região serrana do Rio se complica pela alteração do curso de rios, como o que passa atrás da casa de Eunice da Silveira, ou o córrego Dantas, em Nova Friburgo, que antes era um riacho de 4m de largura por 2m de profundidade e passou a ter 100m por 8m, como explica o professor do departamento de geografia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), Marcelo Motta. ;A bacia hidrográfica passou a ser outra, e isso altera também o ecossistema. Vamos ter de refazer o desenho dos rios nos mapas e acrescentar ilhas fluviais que nunca existiram. E não há como voltar ao traçado antigo porque muitos dos sobreviventes foram parar nessas ilhas.;

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