Ernesto Braga, Pedro Rocha Franco
postado em 23/01/2011 11:42
A falta de investimento em prevenção desaba sob a forma de tragédias sobre famílias que ocupam áreas de risco. Nos últimos cinco anos, 84% das mortes nos períodos chuvosos em Minas estão relacionadas ao descaso de prefeituras com a tarefa de evitar vítimas. Estudo elaborado pelo chefe do Centro de Controle de Emergências da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec), capitão Anderson Passos, revela que 106 das 126 pessoas que morreram no estado entre 2005 e o início de 2010 em decorrência das chuvas poderiam ter sido salvas, caso os municípios se preparassem com mais responsabilidade. O estudo não inclui o atual período chuvoso, iniciado em outubro do ano passado, mas, considerando os mesmos critérios, é possível apontar que, das 17 mortes já registradas nesta temporada, apenas uma não poderia ter sido evitada.O quadro, embora assustador, não é surpreendente quando se considera o número de cidades que dispõem efetivamente de Defesa Civil no extenso território mineiro: dos 853 municípios, não mais que 200, ou menos de 30%, têm equipes atuantes para prevenção e resposta a desastres naturais. O autor do estudo, que mapeou o resultado desse quadro de calamidade, se debruçou sobre dados relacionados a todas as mortes entre outubro de 2005 e março de 2010, para estabelecer um perfil das vítimas de chuva no estado ; classificando-as por idade, sexo, localização etc. O resultado coloca em primeiro lugar entre os acidentes fatais as ocorrências de soterramento (38%) e, imediatamente a seguir, as vítimas arrastadas por enxurradas (36%). O ranking segue com os casos de desabamento em terceiro (10%). As três situações seriam passíveis de ser evitadas, desde que os municípios se preparassem adequadamente para os períodos das cheias. As circunstâncias dos demais óbitos são três: descarga atmosférica (9%); inundação de residência (5%) e queda de árvores (2%). Todas tidas como praticamente inevitáveis.
Quatro pilares são considerados essenciais durante o ano para que as cidades estejam aptas a enfrentar desastres naturais: prevenção, preparação, resposta e reconstrução. Os dois primeiros, porém, deveriam estar no topo das prioridades. ;Prevenção e preparação são palavras de ordem para ter que reconstruir o mínimo possível e evitar mortes;, afirma o chefe do setor de Comunicação da Cedec, major Edylan Arruda.
Com essa preocupação, uma das obrigatoriedades apontadas pelo militar é a elaboração do mapa de áreas de risco, em uma escala que varia de 1 a 4. O número mais alto estabelece que, mantidas as condições verificadas em vistoria, a ocorrência de um desastre grave é muito provável. Nessa situação, é preciso se antecipar, até mesmo acionando a Justiça caso haja resistência do morador em deixar o local.;É preciso ter consciência de que água mata;, destaca o major Edylan Arruda. Embora soe óbvia, o orientação faz sentido quando se verifica os números do trabalho que mapeou as mortes em decorrência das chuvas de 2005 ao início de 2010: mais de um terço das vítimas forma arrastadas ao enfrentar a enxurrada, seja atravessando rios, dirigindo automóveis ou andando em via pública .