postado em 23/01/2011 11:49
Obras de engenharia podem ser a solução para os deslizamentos de encostas no estado do Rio de Janeiro, mas exigem recursos elevados de que o governo não dispõe. A avaliação é do pesquisador da Área de Recuperação de Áreas Degradadas e Proteção de Encostas da Embrapa Solos, Silvio Tavares.Em entrevista à Agência Brasil, ele afirmou que o Brasil, como um país tropical, tem 39 classes de solo e que o estado do Rio tem quase todas essas classes. Para Tavares, nos municípios da região serrana fluminense, devastados pelas chuvas deste verão, uma conjugação de fatores facilitou a ocorrência dos deslizamentos de terra que já causaram a morte de cerca de 800 pessoas. ;É muito mais pelo solo conjugado com a posição na paisagem. É uma conjugação de fatores geomorfológicos;, explicou.
Como a Serra do Mar atravessa quase todo o estado, o pesquisador afirmou que não é preciso que haja a intervenção humana para que ocorram desmoronamentos de terra, como os registrados na madrugada do dia 12 que atingiram, de forma especial, as cidades de Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis.
;A intervenção humana vai aumentar os eventos que ocorreram. É um fator natural. E a Serra do Mar é toda, naturalmente, propícia a isso. As vertentes são muito íngremes e muito longas. E esse é um processo natural de formação do solo nas baixadas. Então, não precisa nem ocupação humana para acontecer isso;.
Ele esclareceu que, geotecnicamente, a presença do homem amplia a probabilidade de desmoronamento, reduzindo o fator de segurança com as construções. ;Mas o solo, dependendo da posição da paisagem, vai cair naturalmente;, devido à erosão.
Para impedir que os deslizamentos ocorram, Silvio Tavares destacou que deve ser feito estudo que estabeleça um fator de segurança humana e patrimonial e que não haja ocupação. Acrescentou que a tragédia da região serrana fluminense não tem nada a ver com mudanças climáticas. ;Tudo isso é uma balela. Você tem picos. Não existe uma modelagem perfeita para ser anticlimática;.
Nos rios, por exemplo, ele afirmou que deve ser definido um fator de segurança de 20% ou 30% a mais, após os trechos de cheias, para se pensar em realizar construções. O mesmo ocorre em relação às encostas. ;O que o homem faz é diminuir o fator de segurança e aumentar o risco de desmoronamento;. Para Tavares, a solução seria não ocupar.
O pesquisador disse ainda que nos municípios serranos nenhum governo poderá resolver o problema porque a população já está instalada. ;Ou seja, vai ser morte anunciada ano após ano. O que se vai fazer são obras de contenção em áreas mais críticas, que não garantem nada. Cabe ao homem decidir se quer morar sob risco ou não;.
Silvio Tavares acredita que a solução seria fazer um mapeamento das áreas de risco e estabelecer níveis. ;Dentro dos níveis de risco 4 e 5, ninguém poderia ocupar;. Nos locais situados embaixo, onde fica muito caro remover a população, seriam feitas obras pesadas de engenharia, que minimizariam os problemas. ;Infelizmente, a geografia do Rio é desfavorável à ocupação humana. A solução é: a engenharia resolve 90% dos problemas, mas com muito dinheiro;.
O pesquisador assegurou que o custo é muito caro e que o governo não tem recursos para obras de grande envergadura como as realizadas em Dubai, nos Emirados Árabes, por exemplo, que transformaram o deserto em cidades com toda a infraestrutura.