postado em 26/01/2011 08:55
A pesar das diversas políticas públicas defendidas e criadas pelos órgão do governo, o atendimento às gestantes brasileiras na rede pública ainda deixa muito a desejar. Relatos de falta de respeito às mulheres na hora do parto ; um dos momentos de maior estresse, desconforto e medo ; não são raros e a atenção às mães após o nascimento está longe de ocorrer como deveria. Pesquisas da Universidade de São Paulo (USP) e de Brasília (UnB) apontam algumas dessas falhas recorrentes que podem contribuir para a mortalidade materna e para o agravamento de quadros de depressão pós-parto. Soluções para esses problemas existem; escasso é o número de profissionais especializados nas redes de atendimento, além da fiscalização efetiva para que as orientações sejam cumpridas.Os problemas começam logo no pré-Natal. Grávida de cinco meses, a auxiliar de escritório Jeni Barreto, 19 anos, teria sua quarta consulta, mas pela quarta vez o encontro teve de ser remarcado por falta de profissionais disponíveis para o atendimento. ;Quase toda vez é assim, e quando consigo a consulta são três horas de espera e 10 minutos de atendimento;, reclama a jovem. Jeni, que mora em São Sebastião, diz também que não se sente confortável com a rotatividade de profissionais que a examinam. ;Acho que, se fossem as mesmas pessoas, o acompanhamento seria melhor.; Já com o bebê no colo, Almery Silva, 34 anos, conta que conseguiu fazer todo o seu pré-Natal. ;Algumas consultas tiveram que ser remarcadas, mas acompanhei bem minha gravidez;, diz.
Diretor do Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas do Ministério da Saúde, José Luiz Telles reconhece a falta de profissionais, principalmente na Região Norte e em áreas mais isoladas. ;Lidar com a grande rotatividade de profissionais de saúde é um desafio para o Sistema Único de Saúde. Temos que construir uma plano de carreira para que as equipes médicas não mudem com tanta frequência;, diz.
Segundo Telles, mais de 80% das gestantes brasileiras passam por pelo menos seis consultas de pré-Natal ; número mínimo recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Ele explica também que são apresentadas aos profissionais as diretrizes sobre parto humanizado e condutas de atendimento às pacientes, mas que não cabe ao ministério fiscalizar se os estados e municípios estão seguindo essas instruções.
De acordo com a doutora em saúde coletiva pela USP Janaína Aguiar, a realidade das maternidades onde o parto humanizado não é implementado é desastrosa. ;No serviço público, a demanda é muito grande, existe a dificuldade estrutural e de recursos humanos. Mas isso não justifica a violência a que muitas mulheres são submetidas;, diz.
Segundo o estudo da pesquisadora, tratamento grosseiro, maus-tratos, desrespeito e humilhação são comuns em algumas maternidades públicas da capital paulista. ;Ocorre ameaça de abandono e há relatos de que as mulheres são privadas do choro: um reflexo da cultura de que a dor do parto é o preço pago pelo prazer sexual. Elas são forçadas a calar sua dor.;
Mais de vinte mulheres com bebês de até três meses de idade e que foram atendidas em maternidades públicas do estado de São Paulo foram entrevistadas para compor a pesquisa. Uma das reclamações mais sérias constatadas foi a privação da presença do acompanhante durante o trabalho de parto ; direito assegurado por lei. ;As maternidades alegam que não têm estrutura para receber o acompanhante;, diz a pesquisadora.
O medo da depressão
Segundo a psicóloga do Hospital Universitário de Brasília e professora da Faculdade de Medicina da UnB Rosana Tristão, cerca de 40% das mulheres sentem uma leve depressão após o nascimento do bebê. A grande quantidade de mudanças na vida da mulher e de alterações hormonais pode desencadear os sintomas, que surgem nos 10 primeiros dias após o parto e regridem até o fim do primeiro mês.
Presidente da Comissão Nacional Especializada em Assistência Pré-Natal da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, Geraldo Duarte defende que o apoio do parceiro e da família durante a gestação e após o parto são fundamentais para prevenir a depressão pós-parto. ;A mãe não pode ficar isolada, e quanto mais informações sobre a gravidez, o parto e cuidados do bebê ela tiver, menores as chances de desenvolver a depressão pós-parto;, diz. ;Quando a mulher tem todo esse respaldo, no caso de uma possível depressão pós-parto, os sintomas são mais brandos e menos duradouros;, explica. (CK)