Brasil

Possibilidade de incêndio criminoso leva escolas a reforçarem segurança

João Paulo Sucupira
postado em 09/02/2011 08:38
Rio de Janeiro ; O laudo técnico elaborado pelo Instituto de Criminalística Carlos Éboli, da Polícia Civil, deve demorar 20 dias para afirmar qual o real motivo do incêndio que atingiu quatro barracões de escolas, na segunda-feira, na Cidade do Samba. Porém, há nas entrelinhas de quem vive o dia a dia do carnaval uma desconfiança de que o incêndio pode ter sido criminoso. Uma cena clara a respeito disso estava no excesso de seguranças na porta do barracão do Salgueiro, escola campeã do carnaval de 2009. ;Pode ter sido mesmo criminoso, e entre os diretores há essa desconfiança também. Mas ninguém quer levantar suspeitas ou se envolver em polêmica. Só que todas as escolas colocaram segurança reforçada. Antes, não tinha, achavam que não precisavam. Até o dia do desastre;, contou ao Correio o segurança Danilo Ferreira, 25 anos, que fumava um cigarro tranquilamente na porta do barracão do Salgueiro.

Danilo foi deslocado da quadra da escola, na Tijuca, para a Cidade do Samba. Ao lado de outro segurança, está ali para controlar qualquer movimento estranho, pessoas não identificadas, e faz rondas pelas dependências do barracão. O esquema até o dia do desfile será de três turnos, com três duplas, nos três acessos ao barracão.

Criminoso ou não, o incêndio será alvo de investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), que instaurou ontem inquérito civil para apurar as causas do fogo. De acordo com o MP-RJ, a instauração do inquérito considerou não só a ocorrência de danos ao patrimônio público, mas também indícios de que o acidente ocorreu por falhas no sistema preventivo de incêndios.

Isso porque apesar das versões oficiais de que a estrutura da Cidade do Samba é excelente e o sistema de prevenção é eficaz, funcionários da brigada de incêndio têm opiniões diferentes. Um deles, que não quis se identificar, foi taxativo. ;A estrutura não é eficiente. Na prática são apenas dois homens para cada barracão. É pouca gente. Na fase que estão os preparativos para o carnaval deveriam ser no mínimo quatro homens. Até há um sistema preventivo, mas falta mesmo é material humano;, reclamou o rapaz que é bombeiro e nas horas vagas trabalha na Cidade do Samba.

Trabalho
Vinte e quatro horas depois de controlado o fogo nos galpões, na zona portuária do Rio, os barracões das escolas que não tiveram o material destruído continuam acertando os detalhes em ritmo acelerado. Funcionários e engenheiros da empresa privada que construiu toda a estrutura da Cidade do Samba trabalharam o dia inteiro. Um carro de bombeiros e poucos homens ainda estavam em frente ao barracão da Grande Rio, que soltava uma fumaça fraca. Na tenda central, onde há um bar e uma lanchonete, integrantes da escola são maioria, mas dividem espaço e lamentam as perdas com integrantes da Portela e da União da Ilha, as outras duas atingidas.

No fim de um exaustivo dia de reuniões, o presidente da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), Jorge Castanheiras, explicou que a seguradora da Liga deve se posicionar sobre a verba para as escolas atingidas até o fim da semana. Cada escola vai entregar um relatório com o material estipulado do que foi perdido, para que se chegue a um valor. A certeza porém, segundo o subsecretário da Defesa Civil, Sérgio Simões, é de que a demolição pode começar ainda hoje. ;Todo o segundo pavimento dos barracões está comprometido e será demolido para não afetar o primeiro. Pode começar amanhã (hoje), mas deve ser feito mesmo na quinta-feira. Só fica o pavimento térreo;, destacou

Protesto na Portela
; Os torcedores da Portela se manifestaram contra a decisão de cancelar o julgamento oficial do desfile das escolas atingidas no carnaval 2011. ;Harmonia, evolução, conjunto, bateria, samba....Nada disso foi consumido pelo fogo. Certamente, daqui a 30 anos, em algum texto sobre o passado, não estará registrado que a Portela um dia superou a adversidade, mas que desfilou sem ser julgada;, diz a nota postada em um site de simpatizantes da escola. Além disso, os torcedores da agremiação reclamaram da mudança da data do desfile ; a Portela, que iria para o sambódromo no segundo dia de desfiles, assim como a Grande Rio e a União da Ilha, passará pela Marquês de Sapucaí, agora, no domingo, no lugar da Mocidade Independente de Padre Miguel, que sairá na segunda-feira. (DA)

Prejuízo foi bem maior
; Débora Álvares

Um dia depois de apagado o fogo que consumiu alegorias e fantasias em quatro barracões na Cidade do Samba, uma nova avaliação a respeito dos prejuízos mostra com mais detalhes a dimensão do estrago. A estimativa inicial de R$ 8 milhões em perdas materiais mais que dobrou e deve chegar aos R$ 20 milhões. A quantidade de fantasias destruídas gira em torno de 10 mil, também superior ao que se imaginava inicialmente.

Em uma tentativa de compensar os danos, a RioTur, empresa responsável pelo turismo na cidade, anunciou uma ajuda de custo de R$ 3 milhões. O valor corresponde a 15% da perda com o fogo. A Grande Rio, agremiação mais afetada ; haviam sido R$ 9 milhões empregados nas 3,3 mil fantasias e nos oito carros alegóricos, todos destruídos ;, receberá R$ 1,5 milhão. O restante do valor será dividido entre Portela e União da Ilha, com R$ 750 mil para cada uma.

Embora o auxílio possa contribuir para recomeçar os trabalhos, o valor não chega nem perto do que a União da Ilha gastou ; o desfile da escola estava avaliado em R$ 5,5 milhões. O fogo consumiu 2,3 mil fantasias e danificou, também, um carro alegórico e outras duas alegorias. Já a Portela não perdeu nenhum carro, mas ficou sem 2,8 mil fantasias. A estimativa de custo do desfile portelense era de R$ 4,5 milhões.

Segundo Alex Fab, diretor geral do carnaval da Portela, os prejuízos ainda não foram totalmente contabilizados, mas são estimados em R$ 3 milhões. Ele destaca que a ajuda repassada pela RioTur será usada na reconstrução, mas está longe do necessário. ;Ainda que nos doassem o dobro do que perdemos, não conseguiríamos refazer tudo a menos de um mês do carnaval;, lamenta.

A perda de todas as fantasias da escola aflorou o espírito de solidariedade na comunidade. ;Muita gente apareceu na quadra e também aqui na Cidade do Samba. Todos estão muito abalados, mas confiantes e unidos para levar a escola para a avenida;, conta Fab.

As escolas do grupo especial do Rio de Janeiro desfilam na Marquês de Sapucaí em 6 e 7 de março. Apesar das dificuldades impostas pelo pouco tempo, o cenário começa a mudar. Além da ajuda de custo anunciada pela prefeitura fluminense, a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) designou espaços na Cidade do Samba para as agremiações afetadas confeccionarem novas alegorias e fantasias. A Grande Rio vai utilizar o barracão 7, uma área reservada da liga. A União da Ilha ficará no estacionamento e a Portela, na tenda principal do complexo.

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