Brasil

Fim de remédio para emagrecer traria prejuízo milionário para fabricantes

postado em 20/02/2011 07:00
A polêmica envolvendo a comercialização ou não dos inibidores de apetite, que será levada a consulta pública pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), contrária à venda, não mexe apenas com os ânimos de fabricantes e médicos endocrinologistas. Movimenta também uma considerável cifra no mercado farmacêutico.

Tomando como base um levantamento da agência reguladora de 2009, que mostra que mais de 5 toneladas de anorexígenos foram consumidas naquele ano, o faturamento médio dos fabricantes chega à casa dos R$ 350 milhões anuais. A classe médica rechaça a proposta da Anvisa de cancelar o registro da sibutramina, e anfetamínicos (anfepramona, femproporex e mazidol) e alega que, dessa forma, ficará sem qualquer alternativa para prescrever medicamentos no auxílio ao emagrecimento.

O promotor do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) Diaulas Costa Ribeiro, que na sexta-feira disse ao Correio também ser contra a proibição, reconhece, porém, os interesses financeiros. ;Existem interesses de toda ordem por trás de muitas prescrições medicamentosas. Isso é reconhecido por muitos órgãos, que tentam inclusive lutar contra o que é chamado de compadrio entre médicos e laboratórios.;
Mas ele acredita que o fato de haver consenso entre os profissionais aponta para a necessidade de discussão acerca do tema. ;Será que todos estão defendendo interesses pessoais? Se todo mundo tem posição científica nesse sentido antes de tomar uma decisão como essa, devem ser ouvidas outras opiniões.; O promotor vai representar o MP na audiência pública que a Anvisa promoverá para discutir o assunto.

Os argumentos, tanto a favor da proibição, quanto da manutenção desses medicamentos no mercado, são diversos. O órgão regulador se baseia em um estudo realizado pela Agência Europeia de Medicamentos que aponta aumento de problemas cardiovasculares entre os pacientes tratados com sibutramina, bem como uma evolução dos riscos de infarto e acidente vascular cerebral (AVC). Segundo a chefe do Núcleo de Investigação em Vigilância Sanitária da Anvisa, Maria Eugênia Cury, não há motivos que justifiquem a continuidade no uso desses remédios. ;A discrepância entre a segurança e os benefícios são grandes. Nenhum deles se colocou como mais benéfico do que outro a ponto de ser liberado;, afirmou ao Correio durante a semana. O único remédio usado no emagrecimento que permanece disponível aos pacientes é o orlistate, que age exclusivamente sobre o intestino e evita a absorção de gordura pelo organismo.

Embora contrária à intenção da Anvisa de proibir a comercialização dessas substâncias, a classe médica concorda com os perigos do uso indiscriminado dos medicamentos. Como destacou o cardiologista Edson D;Avila na última sexta, a atuação no sistema nervoso central provoca um aumento do metabolismo o que pode modificar a pressão arterial e os batimentos cardíacos. O médico destaca ainda que as substâncias eventualmente provocam ansiedade e dores pelo corpo.

Entretanto, especialistas sustentam que, apesar dos riscos, a suspensão é uma medida extrema. Isso porque, desde março do ano passado, a Anvisa tornou a venda de sibutramina mais rigorosa, com a exigência de retenção da receita médica na farmácia. ;Exatamente porque tem esse controle, não é necessário acabar;, vem ressaltando o endocrinologista Neuton Dornelas. Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia, proibir o uso de anorexígenos deixa pacientes obesos sem alternativas de tratamento, o que pode elevar a busca por cirurgias bariátricas.

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