postado em 22/02/2011 08:19
A busca por um corpo magro em um curto intervalo de tempo leva até mesmo quem não precisa de medicação a procurar médicos para, com a ajuda dos inibidores de apetite, perder peso. E há profissionais que, ao contrário do que recomendam os conselhos e associações da área, receitam os remédios de uso restrito a pacientes que não têm diagnóstico de obesidade.Muito procurados, os endocrinologistas ganham ainda mais assédio entre os pacientes quando receitam medicamentos restritos com menor critério. A servidora pública Lívia Fernandes, 26 anos, esperou dois meses por um espaço na agenda lotada do médico indicado por uma amiga. Ela procurou o especialista para perder quatro quilos e, após fazer exames de sangue, recebeu a receita para comprar sibutramina. ;Ele me recomendou atividade física e acompanhamento com nutricionista, mas eu vivia com pressa e não obedeci. Além disso, sabia que o remédio faria efeito sozinho;, diz. Três quilos se foram em apenas três semanas, sem que ela fizesse dieta ou exercícios. No entanto, Lívia parou de usar a medicação devido aos efeitos colaterais. ;Para mim, eles realmente não compensavam o emagrecimento quase milagroso;, diz ela, que teve taquicardia e irritação excessiva no período.
Mesmo conhecendo casos como esse, em que os inibidores de apetite são receitados sem que haja real necessidade de auxílio terapêutico, o Conselho Federal de Medicina é contra a proposta da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de suspender o registro desses medicamentos no mercado brasileiro. Para o primeiro-secretário do conselho, Desiré Callegari, o excesso de prescrições pode causar problemas de saúde coletiva. No entanto, de acordo com ele, não se pode abrir mão dos remédios para o tratamento contra a obesidade, e a melhor saída é dar atenção ao controle da venda. Segundo Callegari, a Anvisa dispõe de meios para fiscalizar a venda dos remédios. ;O controle não é difícil porque há um prontuário em que o médico fundamenta o uso da medicação. Temos várias maneiras de ver se está sendo feito para o bem do paciente e não para outras finalidades;, afirma.
Até cassação
Um sistema da Anvisa compila as informações sobre a venda de medicamentos controlados, segundo Callegari. A partir da coleta dos dados sobre a comercialização dos inibidores, os conselhos regionais de medicina recebem relações com os nomes dos profissionais que receitam com maior frequência para que haja uma investigação sobre o uso indiscriminado do medicamento. A punição para os maus médicos, de acordo com o caso, vai da advertência à cassação do registro.
Outra preocupação dos que defendem o uso dos medicamentos é que o comércio ilegal possa aumentar com a proibição da venda dos inibidores de apetite no país. Antes mesmo da suspensão do registro, já é possível consegui-los sem receita médica. Aos 26 anos e com 57kg, Natália* afirma que quis tomar sibutramina por ;curiosidade;. Mesmo sem precisar perder peso, conseguiu comprar duas caixas do remédio com um conhecido, dono de farmácia. Além de não ser acompanhada por um médico, ela nem sequer tomou o remédio diariamente, como é indicado nos tratamentos.
A experiência da servidora pública, segundo Ricardo Meirelles, presidente das Sociedade Brasileira de Endocrinologia, é perigosa. ;Há risco de aumento de pressão nessas pessoas e de alteração do sistema nervoso;, alerta. Depois de perder quatro quilos e recuperá-los assim que parou de ingerir o inibidor de apetite, Natália não pensa em repetir a dose. ;Não tomaria de novo porque não estou precisando tanto e principalmente pelos efeitos colaterais.;
*Nome fictício a pedido da entrevistada
Atuações diversas
Um dos inibidores de apetite mais usados no país, a sibutramina atua sobre duas funções do sistema nervoso central: na vontade de comer e na sensação de saciedade. Os outros remédios que podem ser proibidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária são do grupo das anfetaminas. Eles agem em uma área do cérebro chamada fenda simpática, mantendo a dopamina e a noradrenalina na região, reduzindo a sensação de fome.
Opinião do internauta
Lara Machado
Ás vezes, a intenção é boa, mas o Brasil é muito desacreditado no quesito moral versus legal, prevalecendo os interesses de poucos.
José Carlos Leandro
Larguei a minha mulher porque ela é dependente desses remédios, ela fica agressiva.
Roni Vedovo
Estou morrendo de dó deles (os fabricantes). Eles não vão poder ficar nos consultórios de médicos empurrando o que os doentes vão ou não tomar. Laboratório e médico, o casamento perfeito.