Brasil

No Maranhão, 62 mulheres foram assassinadas em um ano

Levantamento ainda incompleto indica que mais mulheres foram assassinadas do que detentos em presídios do MA

Carolina Mello
postado em 06/03/2011 19:18
Dados preliminares do governo do estado revelam que o número de mulheres mortas de forma violenta é superior ao de detentos assassinados no sistema carcerário no Maranhão. O levantamento é referente ao período compreendido entre janeiro do ano passado a 25 de fevereiro deste ano.

A secretária estadual da Mulher, Catharina Bacelar, disse que foram 54 os homicídios em delegacias e presídios, contra pelo menos 62 casos de mulheres brutalmente assassinadas. O objetivo de Catharina ao fazer o comparativo é provocar a sociedade para a negligência e o silêncio em torno das vítimas do sexo feminino. A informação faz parte de um estudo iniciado em 2008 para traçar o perfil da violência extrema contra a mulher.

Catharina disse que a ideia de fazer o estudo veio a partir da incipiência de dados relativos à violência sofrida pelas mulheres. Segundo a secretária, falta uma base ou plataforma que reúna estatísticas de delegacias, hospitais e outros órgãos de escuta das vítimas.

Existe ainda o próprio silêncio por parte de quem sofre a agressão. Por isso, a Secretaria de Estado da Mulher (Semu) tem coletado informações de jornais e blogs, e realizado escuta em São Luís e demais cidades do interior do Maranhão.

A meta é de que a Semu percorra as 217 cidades maranhenses até o final de 2011.

Ano passado, 115 municípios foram visitados. A secretaria também prevê para este ano a implantação de dois serviços telefônicos de denúncia e escuta. São eles: o Disque 100, voltado à violência sexual contra crianças e adolescentes, e a Ouvidoria da Mulher, primeiro serviço de escuta de vítimas mulheres por telefone do país, de acordo com Catharina.

O estudo deverá atender não só a carência de dados como desenhar o mapa da violência contra a mulher no estado. Para tanto, as informações estão sendo organizadas a partir das áreas e cidades onde ocorreram os crimes.

A ocupação e idade das vítimas e agressores também estão sendo arquivadas. Desta forma, a Semu poderá saber em quais lugares e situações a mulher é mais vulnerável. Apesar de iniciado em 2008, o estudo abarca assassinatos e mortes ainda não elucidadas da década de 1990. É que muitos agressores de casos ocorridos neste período não foram identificados ou se encontram foragidos. Assim, a pesquisa poderá indicar o grau de impunidade da violência cometida contra as mulheres.

Traçado o perfil, a Semu poderá elaborar políticas públicas de enfrentamento da violência contextualizadas a cada local e situação. Segundo Catharina, é desta forma que políticas já implantadas tem sido desenvolvidas pela secretaria. Em palestras sobre a Lei Maria da Penha, realizadas nos municípios, homens e mulheres formam a plateia.

Homens não aceitam fim da relação

A pesquisa em andamento confirmou a necessidade de incluir o homem na discussão. Mais de 25% das mulheres mortas de forma brutal é fruto de ciúmes ou não aceitação do fim do relacionamento. ;Não adianta orientarmos nossas mulheres a abandonar parceiros violentos, se o estado não dá segurança a elas;, disse Catharina, que acrescentou ser mais eficaz esclarecer o que é violência à população. Muitas vezes nem mesmo o agressor sabe que está cometendo um crime.

Acredita-se que a maioria deles não. A pesquisa preliminar da Semu mostra que grande parte dos agressores no Maranhão são lavradores. Uma prova de que a mulher do campo e de floresta é muito mais vulnerável a violência que a mulher urbana. A difusão da Lei Maria da Penha entre populações rurais tem o objetivo de mostrar que a legislação prevê penalidades não só à violência física, como psicológica, moral e patrimonial.

A Lei Maria da Penha é também virou cordel distribuído nas escolas. Segundo Catharina Bacelar, conscientizar as crianças é a única forma de erradicar uma cultura de aceitação e naturalização da violência contra o sexo feminino.

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