São Paulo ; O medicamento atazanavir, usado por pacientes portadores do vírus HIV, está em falta em diversos pontos do país. O problema foi reconhecido nesta quinta-feira (17/3) pelo ministro da Saúde Alexandre Padilha e começa a preocupar pacientes com a doença e organizações não governamentais (ONG) voltadas ao trabalho de combate à aids.
;É [um problema] seríssimo. A gente tem que fazer a adesão à medicação. Uma vez que fazemos essa adesão, e fazemos uso da medicação, temos o direito de pedir essa medicação porque é isso que faz me manter vivo, estar em pé, trabalhando e ter uma vida normal;, disse Aguinaldo José Gomes, secretário de um departamento jurídico e soropositivo há 20 anos.
[SAIBAMAIS]Desde 1996, por garantia da Lei 9.313, o tratamento da aids é assegurado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a qualquer cidadão com a doença. Segundo o presidente do Fórum de Organizações Não Governamentais de Aids do estado de São Paulo, Rodrigo Pinheiro, existem cerca de 600 mil portadores de HIV em todo o Brasil e, desse total, 200 mil fazem uso de antirretrovirais.
De acordo com o Ministério da Saúde, o atazanavir é um inibidor de protease, enzima importante para a maturação do vírus, e indicado no Brasil como uma das alternativas para estruturar o tratamento antirretroviral, apresentado tanto em cápsulas de 200 miligramas (mg) quanto em cápsulas de 300 mg. O que está em falta é o de 300 mg. O atazanavir é utilizado por 33 mil pacientes.
Segundo o médico infectologista Jean Gorinchteyn, do Hospital Emílio Ribas de São Paulo, não há problemas na substituição do medicamento. ;O mais importante é que essa substituição ocorra de uma forma breve, sem que ocorra a interrupção dessa medicação. Tem que acontecer com substituições de medicações da mesma classe;, disse.
De acordo com o médico, normalmente os pacientes toleram bem a substituição da droga, mas há pessoas que têm resistência a determinadas medicações e, para evitar essas situações, todas as farmácias têm estoques mínimos para contemplar atender a esses pacientes.
Aguinaldo José Gomes afirmou ainda que o desabastecimento também pode provocar um problema de ordem psicológica nos pacientes. ;Psicologicamente, isso é extremamente ruim porque esse paciente está muito adaptado. Então, quando isso acontece, a sensação que ele tem é de descontinuidade quando, na verdade, isso é uma inverdade, ele vai continuar a medicação;, afirmou o médico.
O problema no abastecimento do atazanavir, de acordo com o presidente do fórum, foi notado detectado no mês passado. Uma nota técnica emitida pelo Ministério da Saúde na última segunda-feira (14) recomenda que o medicamento seja fracionado nos locais onde ele ainda estiver disponível ou substituído temporariamente por outro caso fosse observada sua falta completa. A nota técnica também informa que a previsão é de que o fornecimento do atazanavir esteja regularizado até a última semana deste mês.
;A maior preocupação que temos quando falta um antirretroviral é a questão da adesão. Hoje, as pessoas que começam a fazer uso do medicamento precisam tomar esse medicamento de forma contínua, todos os dias. E quando falta esse medicamento ou quando se fraciona, isso prejudica muito a questão da adesão;, disse Pinheiro.
De acordo com ele, os problemas no abastecimento de medicamentos são recorrentes. No mês passado, segundo Pinheiro, houve falta do saquinavir. ;Todo ano ocorre problemas graves de desabastecimento. E falta transparência: não sabemos o verdadeiro motivo dessa falta;, afirmou.
Para Pinheiro, o problema do desabastecimento poderia ser solucionado se houvessem estoques reguladores de, pelo menos, três meses. ;Se tivesse um estoque, poderia se suprir essa questão de abastecimento;, disse. Ao participar do Fórum ONGs de Aids em São Paulo, em janeiro deste ano, o ministro da Saúde Alexandre Padilha cogitou essa hipótese de formar um estoque regulador.
Para pacientes com HIV, a recomendação do médico é que eles não fiquem sem medicamento, e que procurem seus médicos ou unidades de saúde num prazo de 15 antes que os remédios acabem. ;À medida em que o paciente fica sem a medicação, ele vai precisar de um hiato de dois a três dias que, para ele, poderia acarretar prejuízo;, alertou.
A fabricante do medicamento, a Bristol-Myers Squibb, informou, por meio de nota, que está ;trabalhando com o Programa Nacional de DST/Aids para garantir que o Reyataz [atazanavir] seja distribuído aos pacientes o mais rápido possível;. Segundo o laboratório, uma nova remessa do remédio deve chegar ainda hoje (17) ao Brasil. ;Ressaltamos que não existem problemas na fabricação do produto e que não há intenções em descontinuar o medicamento;, informou.
Já o Ministério da Saúde, também por meio de nota, afirmou que não houve risco ao tratamento de nenhum paciente que utiliza antirretroviral e que se antecipou à dificuldade no abastecimento para recomendar a substituição do medicamento por outro.
O Ministério confirmou que o primeiro lote com 4,5 milhões de comprimidos de atazanavir chega hoje a Brasília e logo será enviado aos estados entre os dias 22 e 25 de março.
Sobre o saquinavir, o ministério informou que não houve desabastecimento, mas um remanejamento local dos estoques, e que a cobertura desse medicamento está garantida até a primeira quinzena de abril. O laboratório produtor do saquinavir deve fazer a entrega antecipada de parte do primeiro lote do medicamento na próxima semana.