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Governo mineiro emite alerta para riscos de lareiras

Pedro Rocha Franco
postado em 23/03/2011 11:24
A repercussão da morte de um casal de universitários na Estalagem do Mirante, na Serra da Moeda, em Brumadinho, na Grande BH, leva o governo de Minas a preparar cartilha com advertências para o uso adequado de lareiras em hotéis e pousadas do estado. Diante da suspeita de que o casal Gustavo Lage Caldeira Ribeiro, de 23 anos, e Alessandra Paolinelli de Barros, de 22, morreu intoxicado por monóxido de carbono, causa associada à operação do equipamento em local fechado, as secretarias estaduais de Turismo e Defesa Social criarão um manual padrão alertando hóspedes sobre como lidar com segurança com as instalações de aquecimento. O documento será distribuído em parceria com a Associação Brasileira de Hotéis a todos estabelecimentos de hospedagem de Minas. ;O intuito é orientar quanto aos riscos das lareiras, de acordo com os critérios técnicos do Corpo de Bombeiros;, afirma o secretário estadual de Turismo, Agostinho Patrus Filho, ressaltando que os laudos da Polícia Civil ainda não confirmaram a causa das mortes.
Veja o infográfico da lareira

A providência reforça a hipótese de intoxicação e o alerta de especialista ouvido pelo Estado de Minas, que confirma: instalado sem critérios técnicos e usado sem os cuidados adequados, o adorno de luxo pode ser fatal. O documento preparado pelo estado deve conter esclarecimentos sobre os riscos relativos a equipamentos de aquecimento, com medidas preventivas para evitar acidentes. ;Serão detalhadas ameaças que sabemos que existem, até mesmo o perigo de uma fagulha incendiar uma cama;, afirma o secretário. A proposta é levar informações aos hotéis, pousadas e outros estabelecimentos para que sigam passo a passo as orientações do Corpo de Bombeiros.

O manual disponível na Estalagem do Mirante adverte os hóspedes quanto aos riscos do ;uso indevido; da lareira. No entanto, deixa de ressaltar um aspecto relevante: os perigos de usar o equipamento com as dependências totalmente fechadas. Especialistas atestam que a operação de lareiras em locais sem ventilação resulta no acúmulo de gases e pode causar envenenamento por monóxido de carbono. Laudos preliminares divulgados pela Polícia Civil mostram que havia concentração suficiente do gás para que as mortes ocorressem em duas horas.

O chalé onde os dois se encontravam estava totalmente fechado e a suspeita é de que correntes de ar, comuns na área montanhosa, possam ter contribuído para comprometer o funcionamento da lareira, mantendo o monóxido de carbono no ambiente.

A Divisão de Crimes contra a Vida assumiu na terça-feira as investigações do caso, antes sob responsabilidade da Delegacia de Pessoas Desaparecidas. A delegada Elenice Cristine Batista Ferreira esteve na pousada para checar o chalé alugado pelo casal, onde foi vistoriada ainda a banheira de hidromassagem. Ela também pretende tomar depoimentos de funcionários. Uma informação relevante para confirmação, ou não, da causa das mortes é o resultado do laudo de uma perícia de engenharia legal, feito numa visita à pousada no dia seguinte à descoberta dos corpos.

Conhecedor das lareiras instaladas na Estalagem do Mirante, Ismael Figueiredo, especialista no setor, explica o funcionamento do equipamento. Um dispositivo situado no duto é responsável pelo nivelamento da concentração de calor no ambiente e da capacidade de exaustão. Com o mecanismo completamente aberto, a fumaça gerada da queima será toda expelida pela chaminé. Quanto mais fechado, maior será o calor no cômodo, porém, menor será a liberação de gases. ;Esse é um perigo. Caso a chaminé seja totalmente fechada, toda fumaça ficará retida;, diz Figueiredo. No ramo há 20 anos, ele diz não ter recordações de casos trágicos como o dos namorados. ;É difícil se repetir, mais difícil que ganhar na loteria;, acredita.

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