Marcelo Fonseca/Estado de Minas
postado em 03/04/2011 08:46
Belo Horizonte ; Raimundo Nonato da Silva não sabe ao certo quantos anos tem ou o que seus dois filhos fazem atualmente. ;Acho que tenho 88 anos, no máximo 89, mas não passei dos 90 ainda não, disso eu tenho certeza, senão ia estar velhinho demais já, né?;, brinca. Ele se emociona ao lembrar os momentos difíceis pelos quais passou ao longo da vida, com dificuldades financeiras e viagens em busca de melhores condições para a família. Mas o que faz com que o bem-humorado cearense chegue às lágrimas é falar sobre a perda do contato com os filhos, ;que foi só piorando com o passar dos anos até acabar de vez;, lamenta.[SAIBAMAIS]Quando veio do Ceará para Belo Horizonte, no início da década de 1960, depois de passar por várias cidades no Nordeste procurando emprego, a ideia de Raimundo era conseguir melhorar a situação da família e tratar da mulher, que enfrentava doenças sérias. ;Hoje vejo que foi um erro me mudar aqui para o sul do país. Eu achava que lá no norte era ruim e não podia imaginar o que me esperava pela frente. Viemos a convite de uma conhecida para tentar curar a mulher, mas ela não sobreviveu. Até hoje não sei o que ela teve direito, só sei que depois que ela se foi eu fiquei igual cão sem dono, em um lugar que não conhecia ninguém, nem sabia como as coisas funcionavam. E ainda tinha o frio, quando fiquei sem ter onde morar e fui parar na rua;, conta.
Raimundo nem sabe o que os filhos estão fazendo hoje. ;Não sei se estão vivos, ou com problemas. E isso me deixa muito triste, fico pensando o que eu posso ter feito de ruim para eles;, lamenta. Depois de algum tempo morando na casa de um dos filhos, onde sofria com maus-tratos e humilhações, ele decidiu fugir de casa. ;Chegou a ponto de o meu próprio filho me ameaçar com uma faca, falando que ia me matar. Aí resolvi fugir, porque não tinha condição alguma de ficar com ele;, explica Raimundo. Hoje ele vive em um abrigo e não tem qualquer esperança de rever familiares.