postado em 05/04/2011 11:12
Mais uma investida para tentar tirar do papel a proposta que busca conciliar diversão e sossego no Bairro de Lourdes, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Depois de experiências frustradas, um escritório de arquitetura da capital aceitou o desafio de desenvolver o projeto do toldo antibarulho, com o objetivo de barrar pelo menos 80% a propagação dos ruídos dos bares. Uma empresa de São Paulo também se debruça sobre a tarefa e, em 10 dias, a associação de moradores (Amalou), à frente da iniciativa, pretende apresentar os protótipos mineiro e paulista à prefeitura para, ainda este mês, iniciar a instalação do modelo escolhido, em caráter experimental.Os testes serão feitos nos estabelecimentos Braca e Boi Lourdes, que se dispuseram a participar do projeto piloto. Em gestação desde maio de 2010, a iniciativa visa a apaziguar o clima entre os donos dos 57 bares da região e 14 mil moradores. A matéria-prima do toldo é o policarbonato, material plástico altamente resistente e que impede a propagação do som. Retrátil, o equipamento será usado a partir das 23h, quando começa a restrição às mesas e cadeiras nas calçadas.
O presidente da Amalou, Jeferson Rios, explica que a tecnologia deve seguir alguns critérios impostos pela prefeitura. O primeiro é reter pelo menos 80% dos ruídos, além de respeitar a largura de um metro para a passagem de pedestres. Outra exigência é não fumar nos ambientes cobertos pelo toldo e ser climatizado. Sem revelar nomes das empresas que desenvolvem a tecnologia, Rios está confiante de que até o fim do mês os moradores de Lourdes voltem a dormir em paz. ;Todos cobram uma decisão sobre o assunto, até o prefeito Marcio Lacerda.;
Inicialmente a ideia era reproduzir toldos usados na Europa, mas a Amalou, que está arcando com os custos do projeto, percebeu que adaptações seriam necessárias para atender a realidade de BH. O problema é que empresas acharam dificuldades para conseguir barrar em 80% o nível dos ruídos, como exige a prefeitura. ;Na Europa, eles usam estruturas fixas feitas de vidro. O mineiro gosta de ver e ser visto e pensamos num modelo removível, de policarbonato;, diz Rios.
Interesse
Donos de bares também têm interesse em pôr um ponto final nessa história barulhenta. Com 25 mesas na calçada, na esquina das ruas Alvarenga Peixoto e Santa Catarina, e 20 dentro do bar, o Boi Lourdes será um dos cobaias do experimento. ;Se for para diminuir o barulho, estamos dentro. Não temos música ao vivo nem jogos de futebol na TV, mas sabemos que mesmo assim há incômodo, apesar de não haver reclamações;, afirma um dos donos do estabelecimento, Ronaldo Macedo da Silva.
Se aprovada, a ideia é levar a tecnologia aos demais bares e restaurantes de Lourdes, que viveu uma explosão gastronômica na última década e elevou de 12 para 57 o número de estabelecimentos. Apesar de não apresentarem números, a Polícia Militar e a Gerência de Regulação Urbana da Regional Centro-Sul apontam que o bairro é responsável por grande parcela das reclamações contra poluição sonora.
Mas o toldo, depois de aprovado, precisa ser incorporado à legislação municipal e será objeto do Projeto de Lei 1196/2010, de autoria do vereador Léo Burguês de Castro (PSDB), que insere artigo referente à tecnologia no Código de Posturas, documento que regula o uso do espaço público. A proposta tramita em segundo turno na Câmara Municipal.
Guajajaras
Enquanto em Lourdes a solução encontrada para o fim do barulho é o desenvolvimento do toldo antibarulho, na Rua Guajajaras, proprietários de bares e restaurantes afirmam que a tecnologia não serviria como solução imediata. Liminar judicial impôs restrições ao funcionamento de sete estabelecimentos da rua, obrigando-os a fechar nas quintas e sextas-feiras, a partir das 22h. A decisão foi baseada em denúncia do Ministério Público Estadual sobre baderna, sexo explícito e drogas na Guajajaras.