Brasil

Especialistas defendem instalação de equipamentos de vigilância nas escolas

postado em 08/04/2011 08:14
A discussão sobre a necessidade de instalar meios que protejam a integridade dos estudantes ganhou visibilidade depois do ataque de ontem na escola Tasso da Silveira. Na Câmara dos Deputados tramita pelo menos um projeto que obriga a instalação de aparelhos de raios x nos estabelecimentos de ensino públicos e privados. Mas, no Rio de Janeiro, onde ocorreu a tragédia, a única proposta dessa natureza em estudo pela Assembleia Legislativa foi arquivada no ano passado. Especialistas da área de segurança e violência defendem que, a partir do que houve em Realengo, os governos adotem medidas urgentes para evitar novos incidentes.

;A escola não pode ser um local trancado, as crianças têm que ser livres, mas precisa haver controle nas entradas dos estabelecimentos;, observa Daniel Sampaio, delegado aposentado da Polícia Federal e especialista em operações especiais. Segundo ele, o poder público já deveria ter tomado providências para evitar fatos como o que ocorreu em Realengo. ;O brasileiro tem a mania de fechar a casa só depois que o caso ocorreu;, diz o policial, criador do Comando de Operações Táticas da PF. Uma das alternativas, segundo ele, é a instalação de detectores de metais na entrada das escolas.

Para Irenaldo Lima, presidente do Sindicato das Empresas de Segurança Privada, Sistemas de Segurança Eletrônica e Transporte de Valores no Distrito Federal (Sindesp-DF), não há segurança nas escolas brasileiras. Além disso, Lima ressalta que os planos de segurança para os estabelecimentos são falhos e muitas vezes não geram resultados. ;O que deveria ser feito pelos estados e prefeituras é pegar um gestor em segurança pública para fazer um planejamento, antes de lançar a licitação para a contratação de vigilância;, diz o sindicalista, outro defensor dos detectores de metais nas instituições de ensino. ;Se um aluno ou outra pessoa vir a revista com o aparelho e estiver com alguma coisa, nem entra na escola;, explica Lima.

Nos últimos 10 anos, cerca de 320 pessoas ; entre estudantes, professores e funcionários de escolas ; foram assassinadas nos Estados Unidos em atentados semelhantes ao que ocorreu ontem no Brasil. Apesar das leis do país do Hemisfério Norte serem mais brandas em relação à aquisição e armas e munições, o governo determinou a instalação de detectores de metais nos estabelecimentos de ensino. Uma medida que, segundo o coordenador da organização não governamental (ONG) Viva Rio, Antônio Rangel Bandeira, já deveria ter sido tomada. ;Pesquisas mostram que em muitas escolas da periferia existe a possibilidade de o aluno andar armado. É necessário haver uma vigilância maior nas escolas e um detector de metais não custa caro;, afirma Rangel.

O projeto que tramita na Câmara determina: todas as pessoas que entrarem em uma escola devem passar por um detector de metais e seus pertences passam por um aparelho de raios x. Na justificativa, o deputado Sandro Mabel (PP-GO) afirmou que existe uma onda de violência nas escolas brasileiras, onde alunos, professores e funcionários são agredidos com facas e armas de fogo, entre outros objetos. ;Está comprovado, com fundamento na experiência em segurança pública, que os detectores de metais podem coibir a entrada de objetos que sirvam de apoio ao cometimento de atos infracionais;, escreveu Mabel na proposta.

Imprevisível
O presidente do Instituto Brasileiro de Inteligência Criminal, George Felipe Dantas, analisou que a prevenção para o crime cometido por Wellington Menezes é praticamente inócua. ;É algo absolutamente imprevisível;, diz Dantas, outro defensor de equipamentos de segurança nas escolas. ;Já é tempo de considerarmos, à medida que os outros países estão fazendo o mesmo, colocar detetores de metais nos estabelecimentos;, afirma o especialista, que classifica o assassino como um psicótico, como é definido o criminoso que se julga visionário.

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante, recomenda cautela na discussão sobre o tema, para que depois se passe a definir medidas de combate à violência. ;É preciso refletir com mais profundidade;, diz ele, acrescentando que a questão dos detectores de metais é uma realidade mais próxima do Rio do que de outras regiões. Mesmo assim, ele prefere debater outras maneiras para resolver o problema de segurança nas escolas. ;Temos que ter tranquilidade para o debate, mas antes de tudo precisamos reforçar os padrões morais, diminuir a participação de nossas crianças em eventos de violência.;

Manifestação
O Sindicato Estadual dos Professores de Educação do Rio vai fazer uma manifestação hoje pela manhã, em frente à Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, para denunciar a situação dos educadores do município. ;As escolas estão abandonadas e cargos foram extintos, como os de inspetores, pessoal de portaria e orientadores educacionais. Só tem pessoal na sala de aula, as escolas estão expostas à violência;, disse a diretora da entidade, Luciana Mello. Ele afirma que a manifestação é para chamar a atenção das autoridades para o que ocorreu ontem. ;Hoje, o que menos acontece na escola é o aprendizado e o que se espera numa situação como essa é que as pessoas fiquem indignadas;.

Columbine (EUA), escola atacada em 1999: hoje, há detectores de metais em todos os estabelecimentos de ensino do país.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação