postado em 08/04/2011 08:15
Um atirador entra em uma escola, dispara aleatoriamente em alunos e se suicida. Antes da matança, escolhe um local com o qual tem familiaridade e deixa uma carta em que dá indícios das motivações para o crime. A cena remete a dezenas de casos já registrados em países como Estados Unidos, Alemanha, Canadá e Japão ; e ao ocorrido ontem de manhã, em uma escola pública no Rio de Janeiro. A associação imediata com o atentado de quase 12 anos atrás no Instituto Columbine, no estado americano do Colorado, é inevitável, e muitos até defendem haver uma ligação direta entre esses eventos, num fenômeno chamado copycat (;imitação;).Para especialistas, a identificação das semelhanças entre as tragédias em Realengo e em Columbine serve, inclusive, de alerta sobre como o Brasil pode proceder para evitar mais massacres.
A especialista Kristin Goss, autora do livro Disarmed: the missing movement for gun control in America (Desarmado: O movimento perdido para o controle de armas nos EUA), acredita que a prevenção seja possível, contanto que as autoridades brasileiras entendam que há um problema inicial a ser combatido. ;É muito importante que os brasileiros fiquem atentos para sinais de indivíduos em situação de risco, que podem gerar tragédias como essa. Quem comete um crime desses sempre deixa rastros, como postagens estranhas ou violentas na internet;, observa.
A opinião é compartilhada por outros especialistas no assunto, como Loren Coleman, autor do livro O efeito copycat. ;Como 100% dos atiradores são suicidas, a melhor medida é a resposta a todos os sinais de alerta. A prevenção desse comportamento é a maneira correta de minar a fonte dos atiradores;, opina.
Seguir as ;dicas; deixadas pelos atiradores dias e até meses antes do crime tem ajudado os Estados Unidos a evitar mais derramamento de sangue. De acordo com um relatório de maio de 2002 do Departamento de Educação e do Serviço Secreto americanos, esse tipo de ação raramente é impulsivo. Cerca de 80% dos atiradores tinham revelado seu plano para alguém.
;Há semelhanças entre o caso do Brasil e o de Columbine. O atirador claramente planejou seu ataque, e não escolheu os alvos, atirou aleatoriamente;, comenta o jornalista Dave Cullen, que escreveu o livro Columbine. Segundo ele, os EUA aprenderam, com os últimos eventos, a rastrear qualquer pista que leve a um potencial atirador-suicida. ;É o que o FBI chama de leakage (;vazamento;). Todas as ameaças, físicas e verbais, são levadas a sério e tratadas de forma séria;, afirma. O especialista, no entanto, alerta para o perigo dos ;extremos; nessa varredura. ;Não devemos expedir um mandado de busca toda vez que um jovem aponta o dedo e finge atirar;, pondera.
Reação
David L. Altheide, professor da Universidade Estadual do Arizona, também defende que é preciso ter cautela diante das fortes reações sociais e políticas que esse tipo de tragédia pode gerar. O especialista lembra que, nos EUA, alguns políticos passaram a defender a aprovação de leis permitindo o porte de armas entre alunos e professores dentro dos câmpus universitários. ;No Brasil, congressistas podem querer aumentar a segurança e a vigilância e colocar guardas armados nas escolas. Mas isso promove medo e pode ser muito mais perigoso;, alerta.
A relação entre a maior disseminação de armas e a segurança, inclusive, foi um dos temas mais debatidos nos Estados Unidos após o massacre de Columbine. Na época, dois jovens, Eric Harris e Dylan Klebold, de 17 e 18 anos, respectivamente, mataram 13 pessoas com duas espingardas, uma pistola semiautomática e um rifle de assalto 9mm. No Rio, o jovem Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, usou dois revólveres e dispositivos que permitem recarregar rapidamente as armas.
A discussão é polêmica, mas pouco se avançou na restrição ao porte de armas desde Columbine. ;O acesso a armas é, definitivamente, um grande problema. Mas há muitos interesses envolvidos nessa questão, então a preferência das autoridades foi buscar outras áreas de prevenção, como o combate ao bullying;, analisa Cullen.
Elemento pessoal
Apesar de os massacres em escolas não serem os casos mais corriqueiros nos Estados Unidos ; mais numerosas são as matanças em locais de trabalho ;, são eles que ganham mais a atenção da mídia e da sociedade, pela crueldade em envolver a morte de jovens e crianças. Para especialistas, há várias explicações para a escolha desses espaços pelos atiradores, como a pouca segurança, e o fato de reunir vítimas fáceis em um só lugar. ;Além disso, o suicida que comete um crime como esse quer chocar, e isso é mais fácil quando se envolve crianças. Por isso, tiroteios nesses locais não são surpreendentes, embora sejam terrivelmente chocantes;, afirma a especialista Kristin Goss. O pesquisador William Woodward, da Universidade do Colorado, no entanto, observa que, na maioria dos casos, os atiradores tinham vínculos com as instituições. ;Há sempre um elemento pessoal envolvido.;
"No Brasil, congressistas podem querer aumentar a segurança e a vigilância, e colocar guardas armados nas escolas. Mas isso promove medo e pode ser muito mais perigoso;
David L. Altheide, professor da Universidade Estadual do Arizona