postado em 11/04/2011 07:21
Paula Sarapu - Enviada especialRio de Janeiro ; Doze bandeiras do Brasil manchadas de vermelho como se fosse sangue foram penduradas em varais na Praia de Copacabana, cartão- postal da Zona Sul, em referência aos 12 alunos mortos no massacre da última quinta-feira. A chacina ocorreu na Escola Municipal Tasso da Silveira, distante 27km dali, em Realengo, na Zona Oeste. A homenagem do Movimento Rio de Paz, que tradicionalmente reflete a dor da sociedade na orla mais charmosa do país e exige das autoridades um plano eficiente de combate imediato ao tráfico de armas, recebeu o apoio de anônimos e desconhecidos, que aproveitavam o dia de calor. Em silêncio, eles se sentaram ao lado das bandeiras ao redor de uma cruz preta, colocada de costas para o mar.
Em meio ao grupo, era possível ver uma mãe de mãos dadas com a filha adolescente. Semblantes fechados, blusas pretas e lágrimas nos olhos se uniam no sofrimento compartilhado às famílias de Realengo. Um menino que brincava na areia se ajoelhou sob uma das bandeiras e, mesmo desajeitado, fez o sinal da cruz. No calçadão, quem andava de bicicleta ou passeava na tarde de domingo parou para acompanhar o ato contra a venda de armas e munição.
;Tenho dois filhos, estudei em escola pública, cresci em Bangu, que também fica na Zona Oeste, e imagino o sofrimento dessas pessoas. Quando vi a notícia, em casa, abracei meus filhos e oramos para que Deus console as famílias;, disse a revendedora Fabiana dos Santos Silva, 28 anos, que saía da praia com as crianças, de 6 e 8 anos.
;Brasileirinhos;
Morador de Copacabana, o publicitário Ivo Mensch, de 72 anos, encostou a bicicleta e se juntou ao grupo. ;Infelizmente estamos acostumados com a violência e diversas vezes vi manifestações deste movimento na praia, mas o que houve com essas crianças foi muito traumático para toda a sociedade. A cidade está em luto;, afirmou.
Familiares de vítimas da violência no Rio também participaram do ato. De acordo com o presidente do Movimento Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, as bandeiras manchadas foram inspiradas no discurso da presidente Dilma Rousseff sobre os ;brasileirinhos;. Ele voltou a criticar a facilidade de circulação e comércio de armas e munições.
;As crianças foram mortas em sala de aula, onde precisam cada vez mais estar. As famílias estão devastadas e o país, em choque. Como homens tão perversos e perturbados conseguem comprar essas armas e acabar com a vida de inocentes? Precisamos cobrar das autoridades uma investigação séria para saber de onde vem essas armas e um combate eficaz a esse tipo de comércio;, afirmou, lembrando que há 500 mil armas legais no estado do Rio de Janeiro. Segundo ele, 86% das armas apreendidas nas mãos dos bandidos foram compradas em lojas legalizadas.
Apologia a assassinos
Carta divulgada ontem registra o sentimento de vingança narrado pelo assassino Wellington Menezes de Oliveira antes de executar as 12 crianças na escola. O atirador fez apologia a outros assassinos autores de tragédias semelhantes e relembrou vídeo em que um garoto australiano vítima de bullying revida uma agressão, arremessando o colega contra o chão. Na carta, o criminoso se exime das mortes e diz que apenas ;apertou o gatilho;. Ele ainda escreve que todos que debocham dos considerados mais fracos são culpados pela tragédia. Na casa dele, havia um recado aos policiais, dizendo que precisou colocar fogo no microcomputador para preservar o fornecedor dos equipamentos utilizados na tragédia.