postado em 12/04/2011 08:01
Pais de alunos da Escola Municipal Tasso da Silveira, no Rio de Janeiro, onde 12 meninos foram mortos por Wellington Menezes de Oliveira, voltaram ontem ao local para recolher o material didático deixado pelos filhos no dia do massacre. As salas de aula onde o assassino disparou contra os estudantes passaram por uma limpeza depois que a polícia finalizou os trabalhos de perícia. Elas serão transformadas em biblioteca e espaço multifuncional, segundo o diretor do colégio. Enquanto equipes da Prefeitura do Rio e funcionários do próprio colégio cuidavam da arrumação da instituição, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em Brasília, anunciou a provável antecipação da campanha do desarmamento para 6 de maio ; um mês depois da chacina. Antes, o evento estava previsto para ocorrer em julho. Nilsa da Cruz, avó de Karine Lorraine Chagas, estudante de 14 anos morta pelo atirador, ficou muito emocionada ao sair da escola com a mochila que a neta usava. Ela decidiu doar os livros didáticos da garota ao colégio. ;A minha neta não vai mais precisar deles, mas ainda tem muita gente que precisa;, disse Nilsa. Pai de Roger Cunha, um dos sobreviventes da chacina, Renato Cunha desistiu de levar a bolsa do garoto para casa devido à quantidade de sangue. Nilson Rocha, pai de Renata Lima, que teve ferimentos, contou como a filha está assustada. ;Ela tem dificuldades para dormir e comer;, relatou Nilson. Pelo menos dois pais pediram a transferência dos filhos para outra escola.
Mais quatro jovens internados por conta do ataque receberam alta ontem, de acordo com a Secretaria de Saúde e Defesa Civil do Rio. Entre os cinco meninos e uma menina ainda no hospital, dois estão em estado grave. As vítimas mais debilitadas são um adolescente de 13 anos baleado no olho direito ; ele passou por uma neurocirurgia e, ainda sedado, respira com a ajuda de aparelhos ; e um jovem de 14 anos que foi atingido no abdômen e na mão, e segue na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Albert Schweitzer.
Reação e promoção
Depois de um domingo de depredação, pichação e até ameaça de fogo, a casa onde Wellington morou foi pintada de branco por voluntários que estudaram na Escola Municipal Tasso da Silveira. Numa espécie de protesto pacífico, os manifestantes se juntaram para comprar a tinta usada na parede. Além disso, colaram cartazes afirmando que a culpa não é dos parentes do atirador e que o bairro de Realengo é pacífico. ;Organizei esse ato porque meus sobrinhos, que estavam na escola no dia do tiroteio, passaram em frente à escola e ficaram muito assustados com as pichações;, conta Marcos Gerbatin, referindo-se às inscrições de ;assassino; e ;covarde; feitas por populares nas paredes do imóvel.
[SAIBAMAIS]O governador do Rio, Sérgio Cabral, decidiu promover os três policiais militares que socorreram as vítimas e ajudaram a conter o assassino. Amanhã, haverá a solenidade elevando o terceiro-sargento Márcio Alexandre Alves, que atirou na perna de Wellington Menezes, à graduação de segundo-sargento. E os dois cabos que participaram da ação ; Denílson Francisco de Paula e Ednei Feliciano da Silva ; serão promovidos a terceiro-sargento. Alves retornou à escola ontem a convite do presidente da Comissão de Segurança Pública da Câmara Federal, o deputado Mendonça Prado (DEM-SE). Visivelmente emocionado, ele disse que não se esquecerá do ocorrido. ;Vai tudo estar sempre na minha memória.;
O corpo de Wellington continuava no Instituto de Medicina Legal até o fechamento desta edição. Os parentes, ao pedirem anonimato, disseram não saber o que fazer. Eles temem ser identificados pela população e até sofrer retaliações. Caso o cadáver não seja reclamado em 15 dias, contados da data de chegada à Polícia Civil, Wellington será enterrado como indigente. Quanto às investigações, os agentes tentam vasculhar os contatos do atirador na internet. A ideia é traçar o perfil psicológico do assassino em no máximo 30 dias, prazo para o inquérito ser finalizado, a fim de chegar às reais motivações do assassino, bem como à forma como ele premeditou a chacina.
E-mails reveladores
A polícia recolheu anotações na casa do atirador relatando humilhações sofridas na escola durante a adolescência. Outra fonte de dados está no rastreamento do correio eletrônico de Wellington, cuja quebra de sigilo foi obtida pela polícia. Em análises preliminares, foi possível verificar que o assassino tentou se matricular em um curso de tiro e também o seu interesse por jogos eletrônicos violentos. Apesar de Wellington ter queimado o próprio computador para eliminar pistas, especialistas afirmam que é possível recuperar dados do HD.