postado em 13/04/2011 08:26
As dúvidas sobre o que será encontrado no fundo do Oceano Atlântico, onde equipes localizaram mais destroços do avião da Air France, desaparecido desde 31 de maio de 2009, voltaram a gerar polêmica. Segundo a Associação de Familiares das Vítimas do Voo 447, o Escritório de Investigações e Análises ; BEA, na sigla francesa ; deu a entender, durante uma reunião em Paris, na segunda-feira, que encontrou as caixas-pretas da aeronave. Os investigadores, no entanto, desmentem o fato e afirmaram que, em caso de localização dos objetos, haveria uma imediata comunicação. O que está confirmado é que o navio francês que fará o resgate dos destroços do avião e dos restos mortais encontrados vai sair de Cabo Verde no próximo dia 21, parar em Pernambuco para abastecimento e depois iniciar as operações de emersão. Segundo o diretor executivo da associação dos familiares, Maarten Van Sluys, o posicionamento da BEA é estranho. ;Mediante a pergunta sobre as caixas-pretas, a resposta foi que muito provavelmente elas estão na parte do avião que vai ser retirada do fundo do mar;, conta Sluys, referindo-se à cauda da aeronave, encontrada aparentemente sem grande destruição. Experiência em acidentes aéreos levaram as montadoras a escolher o local para instalar as caixas-pretas, segundo o especialista em manutenção de aeronaves e presidente do Sindicato Municipal dos Aeroviários do Rio de Janeiro, Rui Pessoa. ;É possível que elas (as caixas-pretas) tenham dados preservados que permitam a apuração e a avaliação do sinistro.;
Além de desacreditar do que a BEA diz sobre as investigações, a associação critica a vontade de levar as caixas-pretas para serem analisadas na França. ;Gostaríamos que o material seguisse para os Estados Unidos, onde julgamos haver mais tecnologia, até porque as caixas-pretas foram fabricadas lá. Além disso, é um país neutro;, afirma o diretor executivo, que reclama ainda da falta de abertura a concessões neste sentido. Maarten Van Sluys conta também que o BEA voltou atrás da promessa de que um representante dos parentes poderia acompanhar a recuperação dos destroços. Para ele, a desistência demonstra que os franceses desejam encobrir partes das investigações.
Antes, porém, de se reunirem, em Paris, com os responsáveis pela apuração do acidente que resultou na morte de 228 pessoas, representantes da Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 447 tiveram um encontro com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, na última sexta-feira. Segundo o ministério, o chefe da pasta solicitou ao Itamaraty que um cônsul brasileiro acompanhe as investigações ; o Brasil não pode participar das análises por conta da legislação internacional, que designa ao país em que a aeronave está matriculada a condução do caso.
Também por meio da assessoria de imprensa, o Ministério das Relações Exteriores afirmou ter pedido ao Consulado-Geral em Paris que acompanhasse com atenção redobrada o caso e, na medida do possível, participasse das reuniões. Mas não houve permissão para a participação no encontro da última segunda-feira.
Gravações reveladoras
As caixas-pretas são formadas por material resistente a impactos e ao fogo e têm gravadas todos os dados das últimas 100 horas de voo e 36 horas de gravação de voz e sons da cabine dos pilotos. Segundo especialistas, elas costumam ser a peça-chave para desvendar os motivos de acidentes aéreos.