RIO DE JANEIRO - O Rio de Janeiro, que será a sede da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, receberá enormes investimentos em infraestrutura, transporte e segurança, mas as autoridades reconhecem que não existe um plano de recuperação do patrimônio histórico para esses eventos que atrairão milhares de turistas.
"Houve um aporte financeiro maior para recuperar os espaços da cidade depois que o Rio foi escolhido, mas o que conseguimos fazer, em muitos casos, foram ações emergenciais", admitiu o superintendente do Instituto do Patrimômio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para o Rio de Janeiro, Carlos Fernando Andrade. "Precisamos de um aporte financeiro maior" devido ao grande número de monumentos que há na cidade, acrescentou, em entrevista concedida à AFP.
Para os Jogos Olímpicos, o Rio espera inicialmente investimentos na ordem de 17 bilhões de dólares entre recursos públicos e privados, quantia que, com a Copa de 2014 aumentaria em 7 bilhões, de acordo com estimativas do governo e de empresários. Esse dinheiro será investido, principalmente, em obras de infraestrutura -que já apresentam grandes atrasos-, de melhoria das vias e serviços de transporte público, e em segurança. No entanto, não existe um plano geral para a restauração do deteriorado patrimônio histórico, e sim, alguns projetos isolados.
Segundo o subsecretário de Patrimônio Cultural da Prefeitura do Rio, Washington Fajardo, a designação da ;Cidade Maravilhosa; para ser a sede destes eventos esportivos desencadeou uma "euforia da construção" que representa uma "ameaça" ao acervo histórico. "Com os Jogos Olímpicos, a cidade está recebendo muitas construções. Isso pode ser uma ameaça para a qualidade do ambiente construído", explicou Fajardo à AFP.
Ele reconheceu que "há um certo descontrole no processo de construção", mas citou um decreto do dia 5 de abril no qual o prefeito Eduardo Paes estabelece a revisão de novos projetos para que não afetem a paisagem da cidade.
Além disso, Fajardo assegurou que a Prefeitura prometeu investir somas milionárias para revitalizar espaços públicos, em um plano relacionado também à recente candidatura do Rio de Janeiro para tornar-se Patrimônio Mundial da Unesco na categoria paisagem cultural. Mas não apresentou detalhes dos planos.
Em 1808, o Rio de Janeiro recebeu a Corte Real portuguesa que fugia das forças francesas de Napoleão Bonaparte, quando invadiram a Península Ibérica. Para receber Dom João VI, a cidade passou por uma revolução urbanística que a transformou na "mais europeia das cidades brasileiras".
Atualmente, o impressionante legado daquela que chegou a ser antiga capital do império ultramarino português, refletido em monumentais edifícios como o Museu Histórico da Cidade, tem "problemas estruturais completamente visíveis", lamentou Gleice Mayer, estudante de Museologia que trabalha no museu. "Há infiltrações por todas as partes, o que é totalmente inaceitável, pois trata-se de um espaço que abriga um acervo rico em memória", criticou Mayer, de 24 anos. Este museu foi reaberto recentemente depois de ter sido mantido fechado por vários anos.
Outro exemplo é a sede do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS), uma bela construção de meados do século XVIII. Sua fachada reflete o abandono do local.
Seu diretor, Marco Antônio Texeira, afirmou que a insegurança no centro histórico da cidade prejudica a conservação do prédio. "Não há polícia, não há iluminação, nada", queixou-se. "As calhas do edifício são de bronze e de latão antigo, e as pessoas roubam isso. É dramático", disse. Texeira resume a situação atual de grande parte do centro histórico do Rio de Janeiro em apenas uma frase: "Isto é simplesmente uma terra de ninguém".