Estado de Minas
postado em 04/05/2011 09:42
;País rico é um país sem miséria;. A meta estipulada pela presidente Dilma Rousseff (PT) de eliminar definitivamente a pobreza no Brasil, divulgada no seu lema de governo, ainda está longe de ser atingida. Em Minas Gerais, existem mais de 900 mil pessoas em situação de extrema pobreza. No país, são 16,27 milhões. A ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, apresentou nessa terça-feira dados que deixam claro como a pobreza continua sendo um grande problema social do país, atingindo 8,5% da população. Os primeiros passos da presidente Dilma para resolver a situação é o programa Brasil sem Miséria, que será anunciado nas próximas semanas e tem a ambiciosa meta de transformar essa estatística, zerando o número de miseráveis no Brasil. No anúncio de Tereza Campello, que contou com a presença dos presidentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Eduardo Pereira Nunes, e do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), Márcio Pochmann, além da secretária extraordinária de Erradicação da Extrema Pobreza do ministério, Ana Fonseca, foi divulgado o objetivo do novo programa do governo federal que pretende garantir acesso a serviços públicos e a transferência de renda para que o grande número de brasileiros que vivem na miséria tenha melhores índices humanos de desenvolvimento. ;A ideia é de que estamos fazendo um esforço extraordinário do governo federal, dos governos estaduais e dos municípios para erradicar a extrema pobreza. Não estamos falando de um plano que continuará, mas de uma força-tarefa. Esse plano está previsto para se encerrar em quatro anos;, explicou a ministra.
José Antônio Pereira, de 45 anos, e Rosa Ruas Ferreira, de 56, integram o contingente de brasileiros que permanecem em situação de pobreza absoluta. Moradores do Conjunto Cidade Industrial, uma das áreas mais carentes de Montes Claros, no Norte de Minas, eles vivem como pedintes. ;A gente não tem nenhum ganhame (sic). Eu não tenho vergonha de falar. A gente vive pedindo as coisas para os outros nas ruas;, diz Rosa, acrescentando que está na situação de pedinte há 12 anos. O casal, que diz ter se ;amigado; há oito anos, afirma que tentou, mas não conseguiu se cadastrar no Bolsa-Familia por não ter filhos em idade escolar. Eles moram em um barraco de apenas três cômodos. O espaço é dividido ainda com Jônata, de 18 anos, neto de Rosa. José alega que é doente ; sofre da coluna e de ;problema de cabeça; ; e por isso não trabalha. Já Rosa diz que é lavadeira e limpa lotes. Mas somente ;de vez em quando; consegue serviço.
Quem também vive da ;ajuda dos outros; é Maria de Jesus Soares dos Santos, 58. Viúva, ela mora sozinha em um barraco no Cidade Industrial, onde, além do banheiro, só há um cômodo, que serve como quarto, sala e cozinha. Maria não tem renda alguma. ;Os vizinhos sempre me socorrem;, declara a mulher. ;Hoje , só comi um pedaço de pão no café;, disse ela, mostrando a panela vazia.
No Bairro Jardim das Castanheiras, no Taquaril, Região Leste de Belo Horizonte, muitos moradores vivem de rendas mínimas e não encontram no serviço público o apoio para condições básicas. ;Aqui não temos asfalto, temos problemas com água, com energia elétrica, com tudo. Parece que os governantes se esqueceram da gente. Tem mês que é muito difícil conseguir abastecer a casa, é quando a situação fica muito difícil mesmo;, disse o comerciante Isaías Alves Rodrigues, de 40, que mora na região há 18 anos.
METODOLOGIA Para definir quem vive abaixo da linha da pobreza, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome considerou as pessoas com renda per capita de até R$ 70 mensais, o equivalente a R$ 2,30 por dia. A Organização das Nações Unidas (ONU) determinou o valor de U$$ 1,25 por dia como faixa que define os que vivem na extrema miséria. Com base nos dados apresentados pelo IBGE e Ipea, o ministério pretende atuar, em conjunto com outras pastas, nas regiões mais carentes do país.
Segundo o levantamento, a grande maioria das pessoas que vive na pobreza absoluta está na Região Nordeste, que reúne um total de 9,61 milhões, o equivalente a 59% do total de miseráveis do Brasil. Em seguida vêm as regiões Sudeste, com 2,72 milhões, Norte, com 2,65 milhões, e Sul, com 715 mil de brasileiros em extrema pobreza. A região com o menor número de miseráveis é o Centro-Oeste, com 557 mil.
O estado com o maior número de pessoas que recebem até R$ 70 mensais é a Bahia, com 2,4 milhões. Minas Gerais é o quinto estado na lista divulgada pelo ministério. Roraima é o que tem menos pessoas em situação de extrema pobreza: 76 mil. No entanto, a proporcionalidade com a população total dos estados não foi levada em conta no levantamento do IBGE.
Quando comparados proporcionalmente, as áreas rurais estão em situação pior do que os centros urbanos. De um total de 29,83 milhões de brasileiros residentes no campo, um em cada quatro se encontra em extrema pobreza ; 7,59 milhões, equivalente a 25,5% da população rural do país.
Travessia
Em Minas, o governo estadual implantou o programa Travessia voltado para o público em situação de extrema pobreza. Coordenado pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese), o programa começou em 2008, atuando em cinco municípios com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). No ano seguinte, atuou em outros 35 municípios e, no ano passado, foram incluídos mais 70. Segundo a Sedese, está prevista para este ano a ampliação do programa para outros 121 municípios, e cerca de 2 milhões de pessoas carentes devem ser beneficiadas com as melhorias na infraestrutura, atuação dos conselhos municipais, investimentos na educação e condições de abastecimento básicos.