Brasil

Em 10 anos, os casos de crianças retiradas do trabalho caíram 70%

postado em 12/06/2011 08:00
Cheios de machucados, os pés e as mãos sujos pela terra comprovam o trabalho pesado ao qual está submetida Vitória*. Todos os dias, a menina tímida de sete anos e voz baixa busca nos entulhos e lixos espalhados pelas ruas da Cidade Estrutural (DF) ferragens para vender em uma cooperativa. Enquanto a menina vasculha o lixo acompanhada de uma amiguinha ; sua vizinha ;, a mãe espera, em casa, o dinheiro do trabalho. A menina admite não gostar da obrigação. ;Mas a mamãe manda, e eu venho ver se tem brinquedo;, relata, enquanto olha para um robô estragado no topo de uma pilha de lixo.

Vitória* (D) e uma amiga buscam em entulhos e lixões materiais que possam ser vendidos a cooperativas de reciclagemA exploração a que Vitória* é submetida é classificada por especialistas como trabalho infantil informal. Um tipo de atividade, como a exercida por meninos e meninas em semáforos, que o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) admite ter dificuldade de fiscalizar. Quando há flagrantes, os órgãos focados na assistência social são acionados. ;O conselho (tutelar) e o MP (Ministério Público) chamam a família para conversar e para sensibilizar sobre os perigos e, principalmente, sobre os direitos das crianças e adolescentes;, explica o chefe da divisão de fiscalização do trabalho infantil do MTE, Luiz Henrique Lopes.

A dificuldade de punir os exploradores fez com que, nos últimos anos, houvesse um decréscimo na quantidade de flagrantes. Enquanto em 2001 a fiscalização retirou da ocupação 18,5 mil menores, no ano passado foram 5,6 mil, uma queda de 70%. Reconhecendo a necessidade de ampliar os números, o Ministério do Trabalho modificou as políticas e passou a exigir de suas superintendências regionais atuações mais específicas. ;A gente tem sempre que bolar novas estratégias e começamos a insistir por um estudo mais dirigido, interiorizamos mais a fiscalização;, destaca Henrique Lopes.

Aos auditores fiscais do trabalho cabe fiscalizar qualquer forma de ocupação formal, ou seja, quando há um empregador. Nessa situação, ao encontrarem casos de exploração de menores, eles autuam e aplicam multas, além de encaminharem relatórios aos conselhos Tutelares e ao Ministério Público do Trabalho. Os números deste ano são animadores, segundo Henrique Lopes. Até a última quinta-feira, eles haviam afastado 3.873 menores do trabalho ; mais da metade do resultado de todo o ano passado.

* Nome fictício

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