postado em 27/06/2011 08:00
São Paulo ; A tarde cinzenta, fria e com pancadas de chuvas não foi suficiente para tirar o brilho da 15; Parada do Orgulho Gay, que invadiu ontem a Avenida Paulista. Segundo a Polícia Militar, cerca de 4 milhões de drag queens, gays e héteros dançaram ao som de 15 trios elétricos. O evento foi marcado por uma valsa na abertura e pela grande quantidade de famílias que vão assistir com filhos pequenos àquela que já é considerada a maior festa da diversidade do mundo. O funcionário público Eduardo Pimentel Thé, 28 anos, estava fantasiado de Mulher Maravilha. Ele conta que viajou de Fortaleza em um ônibus semileito, passou quatro dias na estrada e se hospedou na casa de uma amiga, na Zona Leste da capital. ;Cheguei na quinta-feira e fui direto para a 25 de Março comprar essa fantasia, que custou R$ 70;, diz.A parada foi aberta oficialmente pelo prefeito, Gilberto Kassab, e pela madrinha do evento, a senadora Marta Suplicy. Ao som de Danúbio azul, no estilo tradicional e em ritmo techno, os participantes dançaram valsa em frente ao Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp). A ideia é quebrar um recorde e entrar no Guinness Book, o livro dos exageros. Um representante da publicação estava lá para conferir e disse que o recorde atual é de 1.500 casais dançando valsa na rua. ;Acho que não vai ser dessa vez porque gay não sabe dançar valsa. Tem gente que está pulando por causa da mistura dos ritmos;, comentou Renato Foqui, da comissão organizadora da parada. Uma das maiores atrações foi a primeira-diva dos gays, Preta Gil.
Emocionada, ela pediu respeito à diversidade. Depois, a cantora pregou a criminalização da homofobia, tema desta edição da parada. ;Eu sou uma travesti que já nasceu operada. Estou aqui muito honrada de ser primeira-diva da parada, por isso já vim vestida de drag debutante, com muita honra, humildade e emoção;, disse. Ela usava um vestido bordado em cristais. Por onde a parada gay passava, ativistas levantavam a bandeira da criminalização da homofobia. Um painel montado na entrada das estações do metrô lembrava as agressões que marcaram edições anteriores do evento e os ataques aos gays durante todo o primeiro semestre só na Região da Paulista, 16 no total.
Violência
A pedido dos organizadores, a Polícia Militar reforçou a segurança com 1,5 mil homens e pediu que as pessoas não ficassem sozinhas pela rua após o término da passeata, para evitar riscos de ataques. Ainda assim, foram registrados dois arrastões com pelo menos 15 adolescentes que corriam e atacavam os gays para roubar mochilas, bolsas, óculos escuros e celulares. O brasiliense Cauã Tavares, 26 anos, marcou presença na parada com o namorado, mas fez questão de deixar claro que não é muito simpatizante da aglomeração. ;Eu sempre venho por causa das festas. Na hora da parada, geralmente fico no hotel. Só vim dessa vez porque me hospedei na Consolação;, conta. Ele gastou R$ 6 mil entre passagens aéreas, hospedagem, ingressos para festas e outras diversões. ;Não me arrependo;, diz Cauã, que é vendedor autônomo.
Os gays ativistas também disseram ao microfone de um dos trios elétricos que querem a aprovação da união civil no Congresso Nacional. Segundo o presidente da Associação de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros, Toni Reis, se o projeto não passar em votação, ele vai lançar um movimento na sociedade para pressionar os parlamentares, inclusive apontando quem são os deputados que escondem a condição gay. ;Isso não é ameaça. Mas, se nada for feito no Congresso, vamos trabalhar para criar ações com o intuito de que os projetos a favor dos homossexuais sejam prioridade.;
A senadora Marta Suplicy garantiu que está costurando um acordo no Congresso para mudar o nome do Projeto de Lei n; 122, que criminaliza a homofobia. Segundo ela, o nome do projeto já foi ;demonizado; por setores da sociedade e uma mudança poderia fazer com que tivesse mais facilidade de ser aprovado. ;Muitas pessoas já veem o diabo quando escutam o número 122. Por isso estou tentando um acordo para mudar. Já o conteúdo teria poucas alterações;, destacou.
"Sou uma travesti que já nasceu operada. Estou aqui muito honrada de ser primeira-diva da parada, por isso já vim vestida de drag debutante, com muita honra, humildade e emoção;
Preta Gil,
primeira-diva da Parada Gay
"Se nada for feito no Congresso, vamos trabalhar para criar ações com o intuito de que os projetos
a favor dos homossexuais sejam vistos com prioridade;
Toni Reis,
presidente da Associação de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros