Brasil

Governo procura ossadas de desaparecidos políticos da Guerrilha do Araguaia

postado em 26/07/2011 08:03
Cemitério de Xambioá, em Tocantins: relatos de moradores da cidade e de militares ajudam na localização dos corposForam retomadas ontem as buscas por restos mortais de desaparecidos políticos da Guerrilha do Araguaia. O Grupo de Trabalho Araguaia, formado por integrantes dos ministérios da Justiça, da Defesa e da Secretaria de Direitos Humanos, concentra os trabalhos em dois pontos do cemitério de Xambioá, em Tocantins. A cidade fica a 490km de Palmas e tem pouco mais de 11 mil habitantes. Amanhã, a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, vai acompanhar a expedição. Familiares das vítimas também devem chegar ao local nesta semana. O grupo ficará na cidade até 4 de agosto.

Criado neste ano, o Grupo de Trabalho Araguaia nasceu a partir da reformulação das atividades do Grupo de Trabalho Tocantins, que surgiu para cumprir determinação de sentença de 2009 da juíza da 1; Vara Federal do Distrito Federal Solange Salgado, obrigando o governo brasileiro a reiniciar as buscas pelos corpos dos desaparecidos políticos.

A última expedição do Grupo Tocantins a Xambioá deixou alguns pontos de escavações em aberto e que não foram analisados por conta da temporada de chuvas. Informações de moradores locais, familiares, estudiosos e militares orientam a procura pelos corpos. ;Estamos retomando essas buscas no cemitério, onde já foram encontrados dois corpos. Tem, então, um simbolismo e também novas possibilidades;, afirma Marcelo Veiga, assessor da Secretária Nacional da Justiça, do Ministério da Justiça.

No local das buscas foram encontrados, em 2009, os restos mortais de Bergson Gurjão Farias e Maria Lúcia Petit. Uma das pistas do grupo é o relato de uma testemunha que teria ajudado o pai, na época, a abrir valas no cemitério. Ele afirma recordar-se da existência de quatro corpos enrolados.

Após as buscas, o grupo deverá apresentar um relatório das atividades e o planejamento de novas ações. ;Houve uma mudança na sistemática dos trabalhos e da metodologia do grupo. Estamos buscando garantir a transparência, o diálogo com a sociedade e com os familiares. As buscas são uma consequência de decisões internas e internacionais que nos motivam, mas têm também uma dívida histórica;, destaca Veiga.

A Guerrilha do Araguaia foi um movimento político no começo da década de 1970, surgido para enfrentar a ditadura militar. Guerrilheiros e militares foram mortos em combates na selva amazônica. Até hoje, dezenas de participantes do movimento estão desaparecidos.

Julgamento
O coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, acusado de torturar e matar o jornalista Luiz Eduardo Merlino, em julho de 1971, será confrontado com testemunhas em audiência marcada para amanhã, no Fórum João Mendes, em São Paulo. Condenado em primeira instância, Ustra havia obtido a extinção do primeiro processo movido pela família do jornalista em 2008.

No segundo processo, o juiz não aceitou a extinção. A ação por danos morais é movida pela irmã do jornalista, Regina Merlino Dias de Almeida, e pela ex-companheira dele Angela Mendes de Almeida. Carlos Alberto Brilhante Ustra era militante do Partido Operário Comunista. A primeira versão dada pela polícia sobre a sua morte foi a de que o jornalista, preso na casa da mãe, havia se suicidado.


ESPECIALISTAS NA ÁREA FORENSE
Foi publicada, ontem, no Diário Oficial da União, a formação de um grupo de trabalho especializado em arqueologia e antropologia forense. A coordenação será responsável por traçar um diagnóstico da área de peritos no país. O Ministério Público Federal já havia questionado o Estado sobre a ausência de profissionais nessa área, o que prejudica a identificação de vítimas em eventos naturais ou humanos de grandes proporções.

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