postado em 29/07/2011 08:02
A morte de dois brasileiros em uma área da Floresta Amazônica na cidade de Pión, na região de Cajamara, ao Norte do Peru, ainda está cercada de mistério e contestações. O resultado dos exames cadavéricos do engenheiro paulista Mário Gramani Guedes, 57 anos, e do geólogo mineiro Mário Augusto Soares Bittencourt, 61, foi divulgado ontem pelas autoridades peruanas e foi inconclusivo. O exame confirmou que os corpos não apresentavam sinais de violência e, para tentar descobrir a causa da morte, amostras de sangue e tecidos foram coletadas.
Funcionários da Leme Engenharia, sediada em Belo Horizonte, os dois desapareceram na última segunda-feira, quando acompanhavam um grupo de peruanos em um trabalho de levantamento topográfico para a construção de uma usina hidrelétrica na região. Seus corpos foram localizados na mata, na manhã de quarta-feira (veja quadro).
Em Minas Gerais, familiares de Guedes e Bittencourt contestam as afirmações dadas pelo embaixador do Brasil em Lima, Carlos Alfredo Lazary Teixeira, de que os dois poderiam ter morrido por hipotermia ou em razão da altitude. Os parentes dos brasileiros acreditam em assassinato, versão não confirmada pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE). Uma rádio local chegou a afirmar que a população rural contrária à construção da hidrelétrica poderia ter assassinado o engenheiro e o geólogo.
;Eu estou indignada com as respostas do embaixador porque ele joga no lixo toda a experiência de trabalho do meu pai (;) Que eles foram assassinados, não temos dúvidas. Sentimos que existe alguma coisa por trás disso e queremos saber o que é;, afirma a filha de Mário Guedes, Júlia Guedes, 30 anos. ;Acreditamos, por exemplo, em envenenamento e queremos uma contraprova dos exames no Brasil;, diz Felipe Ribeiro Bittencourt, sobrinho de Mário Bittencourt.
O MRE considera que a polícia peruana está empenhada em esclarecer o caso e se colocou à disposição das famílias das vítimas para tentar que algum médico ou perito brasileiro acompanhe os trabalhos no Peru.
O exame de necropsia foi feito na cidade de Baguá Grande, a 300km de onde os corpos foram localizados. Médicos de Chiclayo, a 190km de Baguá, foram chamados porque não havia infraestrutura na cidade para fazer a perícia. Os resultados dos exames complementares em laboratório ainda demoram. Segundo o Itamaraty, a conclusão pode levar semanas e um diplomata acompanha o caso pessoalmente. Familiares tiveram a informação de que a polícia peruana vai pedir a quebra do sigilo telefônico das vítimas para monitorar as últimas ligações que Guedes e Bittencourt fizeram antes de desaparecer.
Roteiro trágico
; O engenheiro paulista Mário Gramani Guedes e o geólogo mineiro Mário Augusto Soares Bittencourt embarcaram em direção a Lima por volta das 17h de sexta-feira, dia 22. No sábado, participaram de uma reunião com representantes da empresa peruana SZ para a instalação de uma usina hidrelétrica na Floresta Amazônica. Logo depois seguiram para o local onde seria feito o levantamento topográfico.
; No domingo à noite, Guedes conversou com a família e falou sobre a expectativa para o trabalho no dia seguinte: seriam duas horas de caminhada por uma trilha de difícil acesso.
; Na segunda-feira, os dois brasileiros teriam se separado do grupo depois de pouco mais de uma hora de caminhada. Relatos de dois peruanos que os acompanhavam no trabalho de campo dão conta de que Bittencourt se sentiu cansado por volta das 12h e pediu para parar.
; Guedes e dois profissionais peruanos seguiram por 200m, mas o paulista decidiu voltar quando se deparou com um trecho de descida. Os peruanos continuaram a trilha e fotografaram a região por cerca de uma hora. Quando voltaram, os brasileiros já não estavam mais no local.
; A Embaixada Brasileira no Peru foi informada sobre o desaparecimento na terça-feira e acionou as autoridades peruanas. Segundo o Itamaraty, as buscas começaram na manhã de quarta e os corpos foram encontrados na mata, a uma distância de 150m um do outro.