Brasil

Com pouco mais de 10 mil migrantes, Brasília é cidade de todas as nações

postado em 02/08/2011 08:42

O italiano Ugo Buresti mudou-se para Brasília antes da inauguração da cidade: A cidade marcada por traços arquitetônicos atrai estrangeiros desde a sua construção. Hoje, são 10.121 migrantes vivendo no Distrito Federal. Gente que veio para tentar melhorar de vida quando Brasília já existia ou que se dedicou a construir um sonho que, de tão brasileiro, deu aos pioneiros uma identidade candanga. Ugo Buresti é um deles. Aos 97 anos, o italiano que desembarcou em São Paulo em 1952 e, menos de cinco anos depois, resolveu participar da obra de Juscelino Kubitschek, tem orgulho da história construída aqui e lembra detalhes da trajetória de um sonho que só virou realidade porque o barco que o levava para o Uruguai mudou de destino e deu aos tripulantes a opção de desembarcar na Argentina ou no Brasil. ;Eu estava em São Paulo trabalhando em uma madeireira quando soube que o presidente queria construir uma cidade. Na hora, pensei que ele estava doido. Depois, decidi participar de perto daquele momento e vim tentar a vida aqui;, conta.

Buresti chegou ao Brasil por conta do fim do relacionamento com a ex-mulher. Na época, conta ele, o jeito de mudar de vida era trocar de país. Formado em economia e letras, o italiano pioneiro tem a história da migração na memória. Conta que viu a chegada de compatriotas e que a ideia disseminada era a de que aqui era o país das oportunidades. ;Para mim, foi mesmo. Comecei trabalhando como madeireiro, virei gerente da empresa três meses depois. Quando cheguei a Brasília, pensei no que as construções precisavam e comecei a trabalhar vendendo areia. Nunca me faltou trabalho no Brasil;, diz ele, com uma precisão de datas e detalhes que esconde seus 97 anos. ;Minha cabeça está ótima. Exercito-a sempre no computador e escrevendo sobre coisas diferentes. O problema é que não ouço bem e as pernas não são mais as mesmas. De resto, sou um menino levado;, descreve-se o italiano, adepto de duas taças de vinho diárias.

Família brasileira
A cidade que acolheu Buresti foi o destino também de outras nacionalidades. O primeiro tanzaniano a desembarcar aqui, 20 anos atrás, Ubaia Samatta, conta que teve sorte de chegar ao Brasil e diz que sua vida hoje é muito melhor do que teria sido se tivesse permanecido na Tanzânia. ;Comprei uma casa própria e criei cinco filhos. Nunca mais vi meus primos e irmãos que ficaram lá. Mas tenho certeza de que minha situação é muito melhor;, conta ele, que vive com um visto permanente, conseguido graças ao casamento com uma mulher brasileira e ao nascimento dos filhos.

A união com uma brasileira também permitiu a permanência do peruano Angelo Clusman Salazar no Brasil. Ele chegou à capital do país em 1999 para trabalhar na embaixada, mas perdeu o emprego cinco anos depois e decidiu ficar no Brasil para tentar uma nova vida. Alguns trabalhos depois e muito aperto financeiro, Angelo casou-se, teve quatro filhos e montou o próprio negócio. Uma realidade que o faz acreditar que tudo valeu a pena. ;Acho que Brasília e o Brasil, como um todo, são uma mina de oportunidades. Hoje, estou muito feliz e agradeço sempre por ter conseguido chegar aqui. Tenho certeza de que minha vida é bem melhor do que seria se eu tivesse ficado lá;, comemora o pequeno empresário de sotaque forte e uma paixão por Brasília que entusiasma qualquer um que conversa com ele sobre a capital.

De temporários a moradores fixos
Daniel Camargos

Enviado Especial

Em Ipatinga (MG),  japoneses jogam softball em um clube da associação nipônicaIpatinga (MG) ; Quando vinculada à contratação de mão de obra qualificada, a vinda de estrangeiros para o Brasil pode ter a permanência definida, mas que vai se perdendo à medida que o migrante conhece o novo lar, mesmo que seja no interior do país. Em Ipatinga (MG), por exemplo, para a instalação de uma unidade da Unigal, braço da Usiminas que produz aços galvanizados, foram contratados 80 japoneses, sendo a maior parte engenheiros. Eles começaram a chegar no fim do ano passado. Quando a obra foi concluída, em maio, muitos retornaram ao Japão. Mas a Associação Nipo-Brasileira de Ipatinga (ANPBI), que tem um clube na cidade, tem cerca de 60 famílias associadas. O lugar é um espaço para os japoneses praticarem esportes populares na terra do sol nascente, como beisebol, e uma variante: o softball. Segundo o presidente da ANPBI, Yoshiro Togura, um reflexo da presença japonesa em Ipatinga é a busca grande por tradutores, o que tem levado alguns japoneses aposentados a voltarem a ativa como intérpretes.

A pujança econômica também tem feito com que os brasileiros espalhados pelo mundo voltem para a terra natal. Gonzaga, no Vale do Rio Doce (MG), com quase 6 mil habitantes, reflete esse movimento. De acordo com estimativa de Edilcéia Maia Teixeira dos Santos, assistente social da prefeitura, até 2008, quando estourou a crise americana, cerca de 600 pessoas de Gonzaga estavam no exterior. Hoje, o contigente é bem menor, estimado em 200 pessoas.

O pedreiro Jamir Souza retornou em 2008, após ficar quase quatro anos na Flórida. Jamir foi via México, valendo-se do trabalho dos coiotes para cruzar a fronteira. ;Antes da crise, eu ganhava até US$ 150 por dia, mas ficou muito difícil de conseguir serviço;, lamenta Souza. Em Gonzaga, o pagamento é menor, cerca de R$ 60 diários, mas a presença da família compensa o rendimento inferior. ;Estou pensando em ir trabalhar em Belo Horizonte. Lá, posso conseguir ganhar até R$ 200 por dia;, almeja Souza.

A vizinha de Gonzaga, Governador Valadares, cidade mais populosa do Vale do Rio Doce, com 290 mil moradores, é famosa pela exportação de mão de obra para os EUA. O fluxo econômico das remessas dos migrantes é chamado informalmente de ;valadólares;. Mas, com o retorno dos valadarenses após a crise de 2008, os ;valadólares; também minguaram. De acordo com o Banco Central, o volume de transferências legalizadas caiu muito. Nos cinco primeiros meses de 2008, antes do estouro da crise americana, o volume foi de US$ 1,152 bilhão (para todo o país). No mesmo período de 2009, houve queda para US$ 951 milhões. A redução continuou em 2010 (US$ 870 milhões) e neste ano (US$ 837,7 milhões).

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