Enviada Especial
postado em 03/08/2011 08:46
São Paulo ; Desembarcaram no Brasil, há pouco mais de 15 dias, pai, mãe e três filhos. A mais velha da prole tem 18 anos; o garoto, 15; e a pequena, 6. A viagem, no entanto, não começou naquela quinta-feira de julho. A família estava ;em fuga; havia dois meses. Perseguidos por grupos paramilitares, Ramirez*, Laura*, Pablo*, Maria* e Juanita são colombianos. História repetida com frequência por muitos dos 628 colombianos refugiados no Brasil. É a segunda população mais expressiva entre os 4,4 mil refugiados no país, perdendo apenas para os angolanos, que são 1.686, de acordo com o Ministério da Justiça.Ramirez quer ir para mais longe, mas, até agora, o que conseguiu foram os 4.462km que separam São Paulo de Bogotá. O medo o persegue. A mulher não quer falar sobre o assunto: ;Ele planejou tudo isso. É ele quem fala;. A filha mais velha tenta apoiar o pai. O menino, chora. Tem saudade dos amigos, da escola, do carro e do quarto só seu. A mais nova busca graça nos livros em português da biblioteca instalada no segundo andar do abrigo em que estão morando. ;Ela não entende muito bem. É como se fosse uma viagem de férias que não termina, mas, de vez em quando, pergunta sobre a família, os amigos, a nossa cidade,; diz o pai, baixinho para que a menina não escute.
É nesse mesmo tom que ele narra o percurso de quase dois meses. Dono de um pequeno negócio em Cúcuta, Ramirez estava acostumado a pagar o ;vacuno; (uma taxa) aos policiais do norte de Santander. Segundo ele, algo próximo a 25% do que recebia. O comércio começou a perder clientes e a dívida com o grupo paralimitar cresceu. As cobranças e as ameaças eram constantes. Tornou-se insustentável permanecer na cidade quando a dívida aproximava-se de um milhão de pesos colombianos. ;Anoiteceu e a gente ainda tinha tudo: carro e casa. Amanheceu e já não tínhamos nada. Largamos tudo para trás,; relata.
Foram dias de ônibus até uma cidade do interior do estado colombiano, outros tantos até a capital. Ramirez e a família chegaram ao Brasil com pouco dinheiro e pouca bagagem, mas ele nem pensa em voltar. Vai entrar com o pedido de refúgio e espera a oportunidade de recomeçar. Ele tem consciência das dificuldades, especialmente por não falar o português. ;É muito difícil para um pai viver essa situação e ter a consciência de que está mudando completamente os rumos da vida de toda a sua família. Precisava fazer isso para protegê-los.;
Além de colombianos e angolanos, destaca-se, no Brasil, a presença de pessoas vindas da República Democrática do Congo (453), da Libéria (258) e do Iraque (203). Ontem, refugiados reuniram-se, em Brasília, com representantes da Organização das Nações Unidas (ONU) para discutir a situação deles no país.
* Nomes fictícios