A vinda do papa Bento XVI ao Brasil, em 2013, confirmada ontem pelo próprio líder espiritual em Madri, durante a Jornada Mundial da Juventude, será providencial para o resgate de fiéis. O anúncio da visita coincide com a menor taxa de católicos verificada em toda a história do país. Eles são 68% da população, de acordo com os dados mais atualizados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), coletados em 2009. Seis anos antes, a taxa era de 74%. A queda de seis pontos percentuais representa, em números absolutos, a fuga de 11,4 milhões de pessoas ; quatro vezes a população do Distrito Federal. O evento a ser celebrado em terras brasileiras tem um alvo certo: os jovens. O Rio de Janeiro foi a cidade escolhida para receber a próxima edição do encontro que terminou na capital espanhola neste domingo.
Na primeira e única visita ao Brasil, feita em 2007, o atual papa encontrou um cenário melhor que o atual. Ele veio exatamente quando foi verificada, por uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas, ligeira estabilidade no número de católicos, na casa dos 73%. Agora, Bento XVI terá de lidar com um fenômeno que já vem se desenhando desde a década de 90 e toma força no início deste século. De cada 10 brasileiros, dois são evangélicos, das mais variadas denominações. Enquanto isso, cresce também a quantidade de brasileiros que se declaram sem religião, passando de 5,1%, em 2003, para 6,7%. Isso significa um acréscimo de três milhões entre agnósticos ou ateus.
Para Paulo Fernando Melo, vice-presidente da Associação Nacional Pró-Vida e Pró-Família, entidade católica com forte apelo entre a população, o avanço dos evangélicos neopentecostais tem se dado especialmente nos bolsões de miséria do país. ;É nas periferias que essas denominações têm mais fieis. Nossa posição é de que aqueles que porventura deixaram de frequentar as igrejas não eram católicos plenamente praticantes. Eram o que chamamos de católicos de IBGE, que apenas assim se declaram;, diz Melo.
Segundo o dirigente, a igreja de Bento XVI tem conseguido atrair nos últimos anos, no Brasil, seguidores por meio de movimentos mais vanguardistas, como a renovação carismática. Emissoras de tevê, a exemplo da Canção Nova e Século 21, também favorecem essa retomada, diz Melo. Na avaliação dele, a vinda do papa para a Jornada Mundial da Juventude reforça a proximidade da Igreja com os fieis, sobretudo os mais novos. ;Sua Santidade celebrará com jovens de todo o mundo, não só brasileiros, contando com a força do carisma, da participação jovem e intensa;, diz Melo.
O anúncio da visita de Bento XVI ao Brasil em 2013 foi comemorada por jovens que participaram da Jornada Mundial da Juventude na Espanha. Eles cantaram a música Cidade Maravilhosa, numa referência ao Rio de Janeiro. Sete mil jovens participavam de uma vigília no Maracanãzinho, no Rio. Ainda no sábado, autoridades brasileiras se reuniram com representantes do Vaticano, no hotel onde Bento XVI estava hospedado, para iniciar os trabalhos que envolvem a vinda do papa. Depois que João Paulo II foi alvo de um atentado na Praça de São Pedro, no Vaticano, em 1981, a segurança dos papas tem se tornado um elemento fundamental nos deslocamentos.
Não foram apenas os fiéis que comemoraram. De olho nas vantagens econômicas e projeção que a cidade pode ter, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, festejou, ao lado do governador Sérgio Cabral, que assistiram à missa celebrada por Bento XVI em Madri. ;O encontro pode reunir mais gente que a Copa do Mundo;, entusiasma-se Paes. Ele ressaltou que a preparação da cidade para receber a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016 é fundamental para o sucesso da Jornada Mundial da Juventude. ;A Copa das Confederações também ocorre em 2013, então toda essa infraestrutura fará com que organizemos a melhor Jornada de todos os tempos;, aposta o prefeito.