Brasil

Contas de matemática não são dominadas por 57% dos alunos do ensino básico

postado em 26/08/2011 08:00
A estratégia de Jeanne Cordeiro Silva, professora do 4; ano do ensino fundamental da Escola Classe 3 do Guará (DF), é dividir a turma em crianças com deficiências semelhantes. Solução encontrada para distribuir melhor a atenção e, assim, o ensino. ;Na minha sala, tenho um grupo que ainda não aprendeu a multiplicação, outro que já começou a divisão e um terceiro que não sabe nenhuma das duas operações;, exemplifica. O malabarismo da aprendizagem presente no cotidiano de Jeanne é a realidade de milhares de docentes do país. Isso porque, segundo resultados da Prova ABC (Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização), 57,2% das crianças que concluíram o 3; ano não conquistaram um aprendizado esperado em matemática. Em relação à leitura, 56,1% aprenderam o suficiente para, por exemplo, localizar informações explícitas em textos. A avaliação foi feita no primeiro semestre deste ano com cerca de 6 mil alunos de 250 escolas municipais, estaduais e particulares de todas as capitais do país. Os estudantes tinham em média 8 anos de idade.

Para a diretora executiva da Todos pela Educação, Priscila Cruz, os percentuais devem ser considerados muito abaixo do que se espera de uma educação de qualidade. ;Fizemos metade da nossa lição de casa. Enquanto o país não tiver 100% das crianças com habilidades básicas em conteúdos fundamentais, não podemos ficar satisfeitos;, disse. A avaliação foi feita pela organização em parceria com o Instituto Paulo Montenegro/Ibope, a Fundação Cesgranrio e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Os alunos também foram avaliados na área da escrita, onde 46,6% dos avaliados não apresentaram um desempenho esperado ; ou seja, foram incapazes de desenvolver a temática proposta para uma redação.

Distorções históricas
Os resultados da avaliação apresentaram diferenças entre as regiões do país e entre as escolas públicas e privadas. O Centro-Oeste apresenta o segundo melhor percentual no caso da leitura e da matemática, atrás apenas da Região Sul. As regiões Norte e Nordeste ficam abaixo da média nacional nos três critérios: leitura, matemática e escrita. Já as escolas públicas apresentam resultados inferiores às particulares em todas as regiões. No caso da matemática, por exemplo, a rede de ensino pública não atingiu pontuação satisfatória em nenhuma região. Ou seja, os alunos não demostraram domínio da adição e subtração, e não conseguiram resolver problemas envolvendo notas e moedas.

De acordo com a secretária de educação básica do Ministério da Educação (MEC), Maria do Pilar Lacerda, é preciso ter uma ;paciência histórica;. ;Temos que fazer o que não foi feito nos séculos 19 e 20: colocar todas as crianças na escola, garantir o aprendizado e fazer com que os pais e as mães voltem para a escola. O Brasil se acostumou com a desigualdade de oportunidade durante muito tempo;, disse. Para a secretária, a diferença entre os resultados conquistados em leitura e matemática deve-se a uma ferramenta de avaliação interna, a Provinha Brasil, que, desde 2008, atesta a qualidade da alfabetização e do letramento inicial oferecidos às crianças do 2; ano. ;A provinha é aplicada em março e depois em novembro. Assim, a professora pode comparar a trajetória dos alunos;, explica.

Segundo a diretora executiva do Instituto Paulo Montenegro, Ana Lúcia Lima, os resultados apontam para a ocorrência de disparidades desde os primeiros anos da escola. ;Os dados mostram que todas as desigualdades se reforçam ao longo da trajetória escolar da criança. Quanto mais as séries avançam, mais aumenta a evasão. Isso vai gerar o que se percebe daqui a 15 anos: o fato de que apenas 25% dos brasileiros têm efetivamente domínio da leitura e da escrita. Essa distorção deve ser corrigida nos anos iniciais do ensino fundamental;, afirma

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