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Criminosos lançam tentativa de contraocupação no Complexo do Alemão

postado em 08/09/2011 07:32

Tumultos entre a população local e o Exército deram a senha para o tráfico tentar uma ofensiva contra os militares no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio de Janeiro. Os criminosos iniciaram no domingo uma tentativa de contraocupação, para reaver parte do território hoje controlado pela Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). A troca de tiros teve início durante a noite de terça e os confrontos se estenderam até a manhã de ontem. Para escapar dos disparos e granadas, moradores se refugiaram nas casas da parte baixa do morro e comerciantes fecharam as portas mais cedo. O Exército apreendeu cerca de cinco bombas caseiras em um dos acessos principais da comunidade e reforçou o policiamento.

De acordo com informações da Força de Pacificação instalada no Complexo do Alemão, além dos soldados, cerca de 100 fuzileiros navais e 50 policiais militares foram convocados para reforçar o efetivo de segurança. Por causa do contra-ataque do tráfico, doze blindados do Exército permanecerão no local. Pelo menos três homens foram detidos durante a operação sob suspeita de desacato e um homem ficou ferido por estilhaços na cabeça. Moradores relataram também que uma menina de 15 anos morreu, após ser atingida por uma bala perdida, mas o general do Exército, Adriano Pereira Jr., negou a informação.

Ataque articulado
Ao lado do secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Mário Sérgio de Brito Duarte, e a chefe de Polícia Civil, Martha Rocha, o general disse acreditar que os traficantes por trás dos conflitos são de favelas vizinhas. ;Tenho certeza de que esse primeiro ataque no Alemão foi articulado por grupos em outras comunidades não pacificadas que estão querendo voltar ao Alemão;, ressaltou. ;Nada vai ser resolvido de uma hora para outra, após 30, 40 anos de abandono;, ponderou Beltrame.

Até o reforço militar na manhã de ontem, os moradores do Complexo do Alemão conviveram com três noites consecutivas de conflitos. O primeiro registro de incidente nas favelas da região ocorreu no domingo, dia 4, quando um grupo de moradores que assistia a um jogo de futebol se recusou a diminuir o barulho e agrediu soldados do Exército com pedras e pedaços de pau. Os militares reagiram com balas de borracha e spray de pimenta, deixando 12 feridos. De acordo com o general Pereira Jr., não é permitido música alta na comunidade após às 22h, mas não há toque de recolher.

Manifestações

Na mesma semana, o serviço de inteligência da Força de Pacificação também divulgou imagens de bandidos vendendo drogas numa boca de fumo próxima à comunidade. Dois homens foram presos por associação ao tráfico. No dia seguinte, houve uma manifestação com faixas nas ruas pedindo a saída do Exército. A população demonstrou insatisfação com o tratamento bruto dado pelos militares. O comandante da Força de Pacificação, general César Leme Justo, defende a tese de que o tráfico ;insatisfeito com a nova dinâmica do local ; pode estar insuflando os moradores para forçar a saída do Exército.

O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), comentou que a polícia precisa entender melhor a realidade e a rotina dos moradores das UPPs. ;É um processo de aprendizado que vai melhorar diariamente;, disse ele, durante evento de formatura de policiais militares que comandarão em breve as operações da UPP no morro da Mangueira, também na Zona Norte da cidade. ;Essas comunidades viveram décadas sob o domínio do poder paralelo. É normal que exista um problema ou outro;, afirmou Cabral.

Treze morros
O Complexo do Alemão é formado por 13 favelas na Zona Norte do Rio de Janeiro, em área equivalente a quase 300 campos de futebol e população de 65 mil habitantes. A região é considerada uma das mais violentas da capital fluminense e tem como ponto central o morro do Alemão.


O Alemão nunca foi inteiramente pacificado. Pelo tamanho da região e suas características, é muito complicado. Mas as UPPs tiveram uma contribuição muito importante;
Ignácio Cano, sociólogo

Esse é um trabalho que exige um esforço muito grande, pois foram muitos anos de domínio e muita coisa ainda precisa ser feita. Mas não estamos diante de um modelo que está degringolando;
Alba Zaluar, antropóloga

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