Brasil

Sobreviventes de tragédias superam melhor as perdas com auxílio do governo

postado em 02/10/2011 08:00


Belo Horizonte
; Estatura baixa, idade próxima de 70 anos, José Estevão evita falar sobre o chuvoso 18 de março de 1992. Ele e Maria Joaquina da Costa, 56 anos, perderam um filho de 12, uma filha de 13, um neto de 28 dias e a nora em uma das piores catástrofes de Minas Gerais, que acabou conhecida como a tragédia da Vila Barraginha, em Contagem, na Grande Belo Horizonte.

[SAIBAMAIS]Outras 32 pessoas morreram, todas soterradas no deslizamento de terra de um aterro em construção ao lado da vila onde moravam. Cerca de 150 barracos foram atingidos, deixando 1,7 mil desabrigados. A área atingida foi transformada em campo de futebol. Uma igreja evangélica instalou-se ao lado. Dezenove anos depois, o casal e os dois filhos do casal que não estavam em casa no dia do deslizamento vivem em outro bairro, para onde foi levada a maior parte dos moradores da Vila Barraginha, batizado de Vila Itália ; país que doou recursos para a transferência das vítimas do deslizamento.

A tragédia, no entanto, foi mais forte que a generosidade do país europeu. ;Passei a ser hipertensa. Vivo sob o poder de remédio. Todos os dias, rezo para que Deus me dê forças;, diz Maria. A ex-moradora da Vila Barraginha conta que, depois da tragédia, passou um ano sob tratamento psicológico. ;Ajudou pouco. A dor fica para sempre;. Em meio ao pouco que fala sobre a tragédia, José Estevão faz apenas uma reclamação. ;Nunca me pediram desculpas.;

Especialista em psicologia de emergência e desastres, Eliana Torga aponta a relação íntima entre a demora de uma resposta efetiva pelo poder público e a capacidade de superação dos atingidos por catástrofes. ;Voltar à vida normal também é limitado pelos recursos, eles vão definir o impacto daquela tragédia para as vítimas;, ressalta a psicóloga. O pós-tragédia, no entanto, diz o mestre em psicologia social Márcio Gagliato, quase sempre vem atrelado à redução da comoção social. ;Tem uma coisa de espetáculo, que mobiliza as pessoas num primeiro momento. Depois, isso cessa;, diz o especialista, que rodou o mundo em ações humanitárias.

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