Brasil

Secretária de Políticas para as Mulheres deveria focar na violência

Júnia Gama
postado em 08/10/2011 11:59
As recentes interferências da Secretaria de Políticas para as Mulheres em obras de ficção e em uma campanha publicitária vêm gerando reações favoráveis e contrárias na sociedade. Após solicitar a suspensão da propaganda em que Gisele Bündchen, de lingerie, ensina a maneira correta de dar uma má notícia ao marido, a ministra da pasta, Iriny Lopes, enviou esta semana ofício à Rede Globo sugerindo que a personagem Celeste, da novela Fina Estampa, procure o serviço da Rede de Atendimento à Mulher ; Ligue 180 quando for agredida pelo marido e que o personagem agressor seja responsabilizado. Em seguida, a ministra endossou pedido do Sindicato dos Metroviários de São Paulo para que seja retirado do ar o quadro Metrô Zorra Brasil, em que uma usuária de um vagão lotado é assediada.

A professora de antropologia da Universidade de Brasília (UnB) Lia Zanotta considera uma ;intromissão; da ministra a sugestão ao autor da novela. ;Cabe à secretaria divulgar o disque denúncia, não é papel da novela fazer campanha de uma política do governo;, pontua.

A diretora de Justiça da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Rio Grande do Sul, Rúbia Abs, considera a interferência pertinente e destaca o diminuto orçamento da pasta para efetuar políticas públicas. ;É um debate válido, a secretaria não é órgão de polícia e cumpre seu papel dentro de uma restrição orçamentária muito grande;, afirma.

A farmacêutica Maria da Penha, que inspirou a lei homônima que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, defende a tentativa de inserção de preocupações nas obras de ficção, mas destaca que apenas isso não basta para enfrentar o problema. ;Ainda há muito a se fazer para mudar o cenário atual. Precisamos de mais políticas públicas, de mais delegacias, de um funcionamento mais eficiente do 180 e de denúncias quando houver omissão do Estado;, aponta a líder de movimentos de defesa dos direitos das mulheres.

A assessoria da secretaria informou que somente atua nesses casos quando é acionada a partir de denúncias e solicitações encaminhadas pela população à ouvidoria do órgão. Ontem, a Rede Globo respondeu à sugestão de Iriny, afirmando entender que o ofício da ministra não representa uma tentativa de coibir a liberdade de expressão.

A secretária negou que tenha pedido a retirada do ar do quadro de humor do programa Zorra Total e que tenha tentado intervir na novela Fina Estampa. Afirmou que é recorrente ;se solidarizar com manifestações que contestem todas as formas de banalização da condição da mulher; e que ;é natural que a secretaria possa fazer sugestões sobre um tema delicado, que toca na esfera da segurança pública, assim como é natural o direito do autor de aceitar ou não a sugestão;.

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