Brasil

"Sortudo é a gente", diz família que adotou criança

postado em 24/10/2011 07:45
Para Jennifer Rogers Spinola, norte-americana de 35 anos que mora no Brasil há quase oito, a ideia surgida ainda criança, quando identificava as bonecas como ;minhas filhas adotivas;, começou a virar realidade em 4 de abril de 2009. Naquele dia, recebeu a ligação do Cadastro Nacional de Adoção sobre um bebê de 5 meses, que havia nascido prematuro, entre o quinto e o sexto mês de gestação. ;Meu coração gelou. Tinha muita gente na minha frente na fila, não imaginei que seria logo;, conta Jennifer. Só aí ela e o marido Athos Spinola, 30 anos, brasileiro, se deram conta de que, para quem não fecha um perfil de criança, o processo pode ser mais rápido. Faltava, porém, ver o garoto, que tinha hidrocefalia e estava num hospital público do Paranoá. ;Claro que ficamos com receio. Depois da visita, a gente tinha que pesar tudo. Se nossa falta de dinheiro, de dois carros, entre outras coisas, pudesse atrapalhar a criação do novo filho, era melhor nem aceitarmos;, lembra.

As dúvidas de Athos e Jennifer ; que se conheceram no Japão, quando ele fazia um curso de direito como bolsista e ela ensinava inglês como missionária de uma igreja ; cessaram ao ver Ethan, nome dado ao garoto pelo casal. Do passado do menino, cuja mãe biológica manifestou ao Judiciário a intenção de enviá-lo à adoção antes mesmo do parto prematuro, o casal sabe muito pouco. ;Só sei que ele é um vencedor. Nasceu com 24 semanas e conseguiu sobreviver. Hoje, a hidrocefalia não o atrapalha em nada. Ele tem uma válvula na cabeça que funciona perfeitamente;, diz Jennifer. O estrabismo ainda está sendo cuidado com seis horas diárias de tampão no olho. Para diminuir as inquietações do menino, incomodado com o apetrecho, ela dotou os brinquedos do mesmo acessório: ;Ele ama ver o ursinho e o macaco de tampão;.

Jennifer não esconde a adoção do garoto, que completa 3 anos este mês. Só não gosta de algumas reações de terceiros. ;Parei de descer para brincar no parquinho, porque se comento que adotei, as pessoas voltam ao assunto o tempo inteiro. Falam na frente da criança coisas do tipo: ;Que sortudo ele é;, como se ele não merecesse ter uma família. Quem é sortudo é a gente, de poder ter uma criança linda como ele;, derrete-se Jennifer. Outra pergunta que ela não suporta é sobre a própria saúde. ;Todos questionam se não posso ter filhos. Posso e penso em ter. Mas esse mito de que quem adota é só quem não pode engravidar tem que ser derrubado;, diz ela, que escreve livros para editoras americanas. (RM)

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