postado em 09/11/2011 07:38
São Paulo ; Setenta e três estudantes que dormiam há 12 dias nas dependências da reitoria da Universidade de São Paulo (USP) em protesto contra a presença da Polícia Militar no câmpus foram surpreendidos às 5h de ontem (8/11). Pelo menos 200 homens do Batalhão de Elite da Polícia Militar paulista invadiram o prédio pelos fundos e prenderam os manifestantes por desobediência à ordem judicial que determinou a reintegração de posse do imóvel. A ação da polícia acabou suscitando um debate entre os pré-candidatos à prefeitura de São Paulo.
Em pré-campanha pela cadeira de Gilberto Kassab (PSD), o ministro da Educação, Fernando Haddad, disse que viu exagero na forma como os policiais trataram os estudantes. ;Não se pode tratar a USP como se fosse a cracolândia. Nem a cracolândia como se fosse a USP;, disse o ministro, referindo-se à área do Centro de São Paulo onde a droga é comercializada a céu aberto. Em disputa pela vaga de candidato dentro do PSDB, o secretário de Cultura de São Paulo, Andrea Matarazzo, aproveitou o comentário de Haddad para criticá-lo. ;O Haddad não conhece a USP nem a cracolândia. O que se viu na universidade foi um bando de baderneiros mimados. Já a cracolândia é um problema de saúde pública grave. A grande diferença é que a depredação de patrimônio público por meia dúzia de mimados se resolve com polícia, enquanto a cracolândia é um problema social e de saúde pública;, disse.
O governador Geraldo Alckmin não quis comentar as críticas de Haddad. Mas ressaltou que os estudantes que acamparam no prédio da reitoria deveriam aprender a fazer protestos em aulas de democracia. ;Precisam ter aula de respeito ao dinheiro público, respeito ao patrimônio público. Não é possível depredar instituições que foram construídas com dinheiro da população. Precisam ter aula de respeito à ordem judicial;, criticou. O governador lamentou ainda que tenha sido necessário o uso de força para o retorno da normalidade no câmpus. ;É lamentável que tenha que chegar ao ponto de a polícia ter que ir lá para fazer cumprir uma decisão judicial.;
Sem acordo
Foram necessários dois ônibus para prender os 73 estudantes, sendo 33 mulheres. Uma juíza e um promotor público tentaram, no fim da semana passada, convencer o grupo a deixar o local sem a força policial, mas os universitários recusaram os acordos propostos. Homens da Tropa de Choque blindaram a entrada da reitoria depois que os universitários foram retirados. Ainda assim, o clima de tensão pairou sobre o câmpus durante boa parte do dia, já que manifestações foram feitas em frente ao local. Alguns estudantes entregaram flores e leram poesias aos policiais.
Os detidos começaram a ser soltos mediante o pagamento de um salário mínimo como fiança, valor estipulado pela Secretaria de Segurança Pública. Até as 19h de ontem, três estudantes haviam sido liberados. O Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) havia se comprometido a fazer uma arrecadação para pagar o valor total da fiança, R$ 38 mil. Assim que o montante foi arrecadado, no entanto, um dos diretores do Sintusp, Magno de Carvalho, mudou de ideia. ;A gente conta que os alunos consigam um habeas corpus ou sejam liberados por decisão da Secretaria da Segurança sem o pagamento da fiança;, explicou.