Foi absolvido na noite dessa quinta-feira (24) por um júri popular, no Rio de Janeiro, o ex-policial militar Elias Gonçalves, acusado de matar em 2008 o menino João Roberto Amorim Soares. A criança foi morta a tiros dentro do carro em que estava com a mãe e o irmão de apenas 9 meses, na Tijuca, Zona Norte do Rio. A Promotoria afirma que policiais militares deram os disparos que levaram à morte do menino. À época, policiais afirmaram que perseguiam supostos criminosos quando atiraram.
Na audiência iniciada na tarde de ontem, Elias afirmou ser inocente. Ele disse ter feito apenas um disparo para o chão na noite da morte do menino. E acusou o outro ex-PM que estava na viatura de ter efetuado os disparos que mataram a criança. Elias foi acusado por homicídio qualificado e duas tentativas de homicídio qualificado.
Diante dos questionamentos do promotor do Ministério Público, Elias disse que mentiu quando respondeu ao processo administrativo. Segundo o MP, o discurso dele ontem foi diferente. Elias alegou que mentiu porque foi pressionado pelo outro PM acusado. ;Houve uma pressão por parte dele e hoje estou mais à vontade para falar toda a verdade. Eu estava com medo, pressionado;, argumentou.
O promotor ponderou que no primeiro depoimento prestado, no Inquérito Policial Militar (IPM), o ex-PM teria dito que efetuou o disparo na roda do veiculo. Já na delegacia, de acordo com o promotor, Elias disse que o disparo foi feito na direção de supostos criminosos. E ontem ele afirmou que atirou para chão.
O promotor afirmou ainda que os policiais sabiam que o modelo do carro procurado pela policia era um Fiat Stilo e o carro atingido, da mãe de João Roberto, foi um Palio Weekend. Ele ainda frisou que o outro ex-PM acusado, William, disse em seu julgamento, ao ser interrogado, que efetuou apenas dois disparos. O carro foi atingido por 17 tiros no total.
A defensoria pública apresentou um documento, que diz ter obtido com a Polícia Militar, que alegou ser o registro de gasto de munição de cada policial. De acordo com a defesa de Elias, o colega dele gastou 21 balas, enquanto Elias apenas uma. O documento estaria assinado por um capitão e pelos dois acusados. João Roberto morreu com três fragmentos de projétil. E que projétil de pistola não fragmenta, segundo a defesa, apenas o de fuzil, arma carregada pelo outro policial militar.
Em seu depoimento, ontem, o ex-PM Elias chorou ao se lembrar da filha. ;Me abriguei próximo ao carro, com a arma voltada para baixo, como aprendi, tentando localizar o veículo dos marginais. Depois fui saber que eles já tinham saído. Ouvi tiros e fui para trás do poste. William (o outro ex-PM acusado do crime) gritava ;a porta, a porta; e eu olhando para a frente. Eu efetuei um disparo, para ver se tinha revide. Fiquei esperando e nada. Foi quando a senhora Alessandra jogou a bolsa. Mas eu não atirei no veículo, eu atirei para o chão, um tiro de intimidação;, contou Elias.
O acusado afirmou que o outro então policial portava um fuzil e uma pistola, enquanto ele carregava apenas uma pistola. Elias Gonçalves chegou a chorar ao falar da filha, que na época tinha 3 anos e fez aniversário pouco depois do crime. Ele foi o terceiro a prestar depoimento na tarde de ontem. A primeira a ser ouvida pelo juiz foi a mãe de João Roberto, Alessandra Amorim Soares, que afirmou não ter ouvido nenhum disparo antes do fato. Depois, falou o relações-públicas da PM, Rogério Leitão, para quem os PMs deixaram de cumprir alguns princípios.
Entenda o caso
Na noite de 6 de julho de 2008, João Roberto Amorim Soares, de 3 anos, foi baleado dentro do carro da mãe, na Rua General Espírito Santo Cardoso, na Tijuca, Zona Norte do Rio.
Acompanhada de João e do filho menor, de apenas 9 meses, a advogada Alessandra Amorim Soares voltava para casa quando parou o Palio Weekend que dirigia para dar passagem a uma viatura da PM.
À época, a explicação dos policiais foi que teriam confundido o carro dela com o de criminosos que perseguiam e, por isso, atiraram.
O estado do Rio foi condenado, em agosto, pelo Tribunal de Justiça a indenizar a família em R$ 900 mil por danos morais. Apesar de caber recurso, o governo anunciou que não recorreria da decisão.