postado em 23/12/2011 08:56
Quando o garimpo de Serra Pelada foi fechado definitivamente pelo governo federal em 1992, milhares de garimpeiros ficaram sem rumo. A maioria voltou para as suas cidades de origem, outros, chamados de %u201Cteimosos%u201D, continuaram na região, vivendo de bicos ou do que tinham juntado. Todos, porém, com a esperança de um dia se beneficiar do ouro que ainda permanece inexplorado no subsolo. No ano que vem, duas décadas depois, a esperança vai se tornar realidade para quase 40 mil deles que, associados a uma cooperativa de garimpeiros, terão participação de 25% no lucro da mineração que começará.
Alguns garimpeiros ainda não sabem como acessarão a parte a que têm direito. O mais provável é que ações equivalentes a 25% dos lucros do que será extraído sejam repartidas igualmente entre os trabalhadores, mas para isso é necessário que a multinacional apresente o último levantamento do potencial de exploração, o que deve ocorrer em janeiro. A certeza que ninguém esconde, no entanto, é que ainda há muito ouro a ser retirado, e dessa vez sem os riscos que enfrentaram na década de 1980, quando dezenas morreram na mina devido às condições precárias de trabalho
%u201CHoje, é uma expectativa diferente do passado, mas melhor, porque no passado aqui trabalhavam milhares de garimpeiros, mas quem pegou ouro mesmo, em abundância, não chegou a 0,5%. Mas, atualmente, a lei do cooperativismo diz que são direitos iguais%u201D, disse José Sobrinho, de 71 anos, um dos poucos %u201Cteimosos%u201D que permaneceram em Serra Pelada.
José Rodrigues, mais conhecido como Bola Sete, 81 anos, diz que cerca de 20 mil ex-garimpeiros já passaram dos 70 anos de idade. O veterano considera que seria melhor se os companheiros pudessem optar por receber sua parte em dinheiro, em vez de ações. %u201CVelho quer o quê? Remédio para colesterol, pressão alta, diabetes, dor nos rins, no fígado, na coluna. O ideal seria a participação nossa em dinheiro. Mas nós vamos acatar porque, na lei do cooperativismo, a maioria decide%u201D, disse.
Para Bola Sete, a retomada da exploração de ouro já deu uma nova cara à localidade e pode melhorar a vida de quem ficou. %u201CTemos hoje, aqui dentro, mais de 20 empresas terceirizadas trabalhando para a mina. Temos dez açougues funcionando. Dez%u201D, repetiu entusiasmado.
Outros aspectos da Vila de Serra Pelada, no entanto, que chegou a abrigar 100 mil pessoas (hoje abriga apenas 6 mil moradores), permanecem como antes. Para chegar até lá, é preciso percorrer pelo menos 15 quilômetros de estrada de terra, e não há previsão para a chegada do asfalto. No único posto de gasolina da comunidade, o telhado é de palha e a bomba ainda é movida a manivela, como no início do século passado. As casas também são as mesmas de 20 anos atrás, de tábuas. Na entrada de algumas moradias, ainda estão as velhas placas indicando dormitórios.