Brasil

Parentes se despedem de vítimas das chuvas no Brasil sob muita água

Busca por desaparecidos e enterros de vítimas marcam a rotina de cidades brasileiras que ainda sofrem com o excesso de chuva

Gustavo Werneck/Estado de Minas
postado em 12/01/2012 08:00
Em Tiradentes (MG), o caixão de uma mulher de 51 anos, coberto por uma lona, teve que ser levado por um trator
Tiradentes (MG) e Brasília ; As cidades brasileiras afetadas pelas chuvas do início deste ano reúnem, além de milhares de desabrigados e desalojados, pelo menos 33 mortos e enterros de vítimas marcados pela desolação. Ontem, um cortejo fúnebre ocorrido na cidade histórica mineira de Tiradentes teve que ser realizado em cima de um trator. Isso porque o Rio das Mortes, que corta a cidade, subiu mais de 4m e alagou a principal entrada do município. O caixão da mulher de 51 anos seguiu de forma improvisada: coberto por uma lona azul, enquanto familiares e amigos se dividiam em várias viagens até o cemitério. As águas cobriram cerca de um quilômetro da Rua dos Inconfidentes, atingindo até 50cm de altura. Quem se arriscou à travessia à pé passou com a correnteza pela cintura.

A pouco mais de uma semana de seu evento cultural mais importante ; a 15; Mostra de Cinema, Tiradentes parece palco de uma tragédia. Nos dois lados de uma ponte inundada, carretas transportavam, ontem, cerca de 50 passageiros por vez. O engenheiro civil Francisco de Paulo Nascimento, 58 anos, lembrou-se de problema semelhante em 1992. ;A cidade vive do turismo. Então, essa situação nos preocupa muito. Não imaginei que tivesse que passar para o outro lado assim, preferiria, claro, caminhar ou seguir de carro.; Botes também são utilizados para a travessia.

Em todo o estado, subiu para 127 o número de municípios em situação de emergência. Quinze pessoas morreram em decorrência das chuvas, sendo 13 vítimas apenas neste mês. Em Belo Horizonte, o juiz da 4; Vara Municipal de Belo Horizonte, Renato Luís Dresch, determinou, por considerar a existência de risco, a demolição controlada de um prédio vizinho ao edifício que desabou na última terça-feira. Segundo a decisão, a demolição deverá ser realizada pela própria construtora no prazo máximo de 10 dias, sob pena de multa diária de R$ 20 mil.

Dias de apreensão também fazem parte da rotina de moradores do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. Na tarde de ontem, oficiais do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro encontraram cinco pessoas de uma mesma família dentro de um fusca, no distrito de Jamapará, do município de Sapucaia, centro-sul fluminense. A família entrou no carro para tentar fugir de um deslizamento, mas o veículo acabou soterrado. O deslizamento de terra aconteceu na madrugada de segunda-feira e atingiu cerca de oito casas, matando 17 pessoas. Na mesma cidade, um homem perdeu a vida depois de sua casa desabar.

Na região, moradores que habitavam cerca de 30 casas localizadas na encosta em que houve o deslizamento fazem queixas de furtos. Ontem de manhã, eles foram autorizados a retirar pertences de valor de suas casas. O vice-governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, visitou o município à tarde e afirmou que vai apoiar o projeto da prefeitura local para construir 50 casas para os desabrigados por meio dos programas Minha Casa, Minha Vida e Somando Forças. Em todo o estado, nove municípios permanecem em alerta máximo para cheias de rios.

Um ano de atraso
O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro divulgou ontem o 3; Relatório de Inspeção à Região Serrana, revelando que apenas oito obras para sanar o problema das mais de 170 áreas identificadas como de alto risco de deslizamento de encostas tiveram início um ano após as enchentes terem provocado a morte de mais de 900 pessoas na Região Serrana fluminense. Nenhuma obra foi concluída até o momento. Ainda de acordo com o relatório, menos de 10% do que estava previsto para o ano passado foi iniciado. As ações limitaram-se ao atendimento às famílias afetadas.

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