Brasil

Alunos que conseguiram bolsa por programa federal esbarram na desinformação

Paulo de Tarso Lyra
postado em 22/01/2012 09:59
A leva inicial de 650 alunos que embarcou nos últimos dias pelo programa Ciência sem Fronteiras teve que superar muito mais que a análise de desempenho acadêmico ; o exigido era obter nota mínima de 3,9 pontos em 4 possíveis numa avaliação, ; ou a proficiência quase perfeita em língua inglesa ; nota de 110 em 120 (em algumas faculdades, 100). Esses alunos que se destacaram em cursos de ponta nas universidades brasileiras tiveram que vencer o desconhecimento das universidades sobre as regras para a inscrição no programa, criar comunidades em redes sociais para trocar dúvidas sobre como preencher os papéis, segurar a ansiedade por não saberem se seriam aprovados ou para qual universidade seriam transferidos.
Aluna da USP, Monique Freitas tem 20 anos, estuda nanomedicina e está feliz com a oportunidade de ingressar em uma tradicional instituição de ensino dos Estados Unidos
Quem venceu tudo isso e conseguiu arrumar as malas não esconde o brilho no olhar. ;A minha universidade é a sexta melhor na minha área no mundo. Vou passar frio nesse início, mas estou muito feliz;, afirmou Monique Gasparoto Freitas, 20 anos, aluna do sexto semestre de física na Universidade de São Paulo (USP) e aceita na Universidade de Boston. A instituição é especializada em ciências físicas e biomoleculares. Em São Carlos (SP), Monique já lidava com nanomedicina e nanotecnologia, com um currículo que lhe valeu três meses de bolsa de pesquisa na França.

O caminho não foi fácil para ela e menos ainda para Pedro Henrique Doria Nehms, também de 20 anos, estudante de engenharia elétrica da Universidade de Brasília (UnB). Ao ser informado sobre o programa, correu para levantar o histórico escolar e fazer as provas de inglês. Mas nas regras de inscrição, também era necessária uma carta de recomendação dos diretores do curso. Como a universidade estava em férias, ele procurou a professora decana de engenharia, que disse que não poderia assinar a recomendação.

Ele dirigiu-se, então, à reitoria da UnB, onde os funcionários também tinham poucas informações sobre como proceder. ;Poderíamos ter mais apoio nesse processo. Mas não era má vontade das pessoas, não. É que nem elas mesmas tinham informações;, defendeu o estudante.
Pedro acabou conseguindo a assinatura do coordenador do curso e foi aprovado para uma faculdade particular, católica, localizada na capital americana, Washington. A instituição para a qual ele foi selecionado é pouco conhecida, mas, para seus futuros planos profissionais, é perfeita: Pedro sonha em trabalhar com engenharia aeroespacial e sua faculdade tem um convênio de pesquisa com a Nasa, a agência espacial norte-americana.

Surge aí outro mistério na cabeça do futuro engenheiro: ele não sabe como foi selecionado. Meses antes de o Ciência sem Fronteiras ter sido aberto, Pedro entrou em contato com uma pesquisadora brasileira que trabalha na agência especial. Quando foi selecionado, descobriu que ela lecionava na mesma universidade para a qual foi aceito. ;Mas eu não faço a mínima ideia se houve alguma relação. Eles não informam para quais universidades nossos currículos foram enviados ou as razões pelas quais nós fomos aceitos;, completou.

Rodrigo de Freitas Maroja, 20 anos, foi selecionado para a Colorado State University. Também aluno de engenharia elétrica ; nessa primeira etapa, os cursos priorizados pelo Ciência sem Fronteiras são as áreas de engenharia, medicina, ciência e artes ;, mudou de país feliz da vida. Ele não se importa se a universidade para a qual vai não está entre as 10 principais do mundo, promessa feita pela presidente Dilma Rousseff quando o programa foi lançado. ;Ela está entre as 150 melhores do mundo. No Brasil, só a USP está nesse patamar. Além disso, estou indo estudar no exterior com tudo pago (o governo brasileiro acertou uma bolsa de US$ 300 para cada aluno, além de hospedagem nos câmpus e alimentação nos restaurantes universitários garantidas), algo que meus pais não teriam condição de fazer;, vibrou Rodrigo.

Redes sociais
O rapaz alega que os grupos nas redes sociais foram fundamentais para ajudar em todo o processo. Além disso, assim que uma descoberta de procedimentos era feita, os diretores da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) postavam na própria comunidade uma orientação padrão que passava a valer como referência. ;Uma das melhorias nas próximas etapas poderia ser encontrar caminhos para que alunos carentes participem, já que as provas de inglês e a tradução dos currículos para o idioma têm de ser custeadas pelos próprios alunos;, apontou Rodrigo.

A animação deles é tanta que já fazem planos de futuro. ;O governo está agindo certo, investindo em jovens estudantes. Mas é preciso criar vagas de trabalho aqui, porque as universidades e as empresas estrangeiras vão nos conhecer;, disse Pedro. ;Não podemos deixar que um programa como esse estimule a fuga de cérebros;, emendou Monique. ;A Capes nos obriga a permanecer no Brasil dois anos após o retorno do exterior. Mas, no meu caso, isso representa o prazo até o término do curso. Devia ter uma cláusula obrigando a permanecer no país pelo menos um ano após o término da graduação;, sugeriu Rodrigo.


Experiência
Lançado em julho pela presidente Dilma Rousseff, o projeto prevê a utilização de até 75 mil bolsas em quatro anos para promover intercâmbio de alunos de graduação e de
pós-graduação. A ideia é que esses estudantes aprimorem seus conhecimentos em instituições de ponta e compartilhem a experiência no Brasil. Além disso, o programa também objetiva trazer pesquisadores estrangeiros que queiram morar no país ou estabelecer parcerias com colegas brasileiros. Para o exterior, são oferecidas bolsas para graduação, tecnólogo, treinamento, doutorado sanduíche, doutorado pleno e pós-doutorado. Os benefícios, como ajuda de custo, variam de acordo com a categoria.


Pelo globo

A segunda leva de alunos do Ciência sem Fronteiras poderá ser transferida para os seguintes países

Alemanha
Estados Unidos
França
Holanda
Itália
Reino Unido

Além disso, o governo brasileiro pretende abrir convênios com

Austrália
Bélgica
Coreia do Sul

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação