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Enredo de traição e ciúme pode explicar o assassinato de procuradora

Guilherme Paranaiba/Estado de Minas, Pedro Ferreira
postado em 03/02/2012 08:32
Ela, servidora pública federal, 35 anos, bonita, bem-sucedida, mãe apaixonada de dois filhos. Ele, pai das crianças, 49 anos, empresário do ramo de locação de veículos, conhecido pelo gosto refinado e pela vaidade. Moravam em residencial de alto padrão em Nova Lima, Sul da Grande BH. Ela está morta. Ele, foragido. Por trás do assassinato da procuradora da Advocacia Geral da União Ana Alice Moreira de Melo, encontrada com várias perfurações pelo corpo ontem no imóvel do casal, no Condomínio Villa Alpina, está um enredo de traição, ameaças e denúncias oculto pela aparência de luxo e conforto transmitida pelo padrão de vida da família.

A história é o que transparece do inquérito sobre os pedidos de proteção feitos contra o marido da vítima, o empresário Djalma Brugnara Veloso, que teve a prisão preventiva decretada como principal suspeito do crime, ocorrido por volta das 4h30 de ontem. Os documentos que tramitam no Fórum Augusto de Lima, em Nova Lima, aos quais o Estado de Minas teve acesso, mostram que o desfecho trágico começou a se desenhar há três anos e que as medidas determinadas pela Justiça foram inúteis para proteger a vítima.

O Auto 188.12.000.552-8J detalha os dois pleitos dos advogados da procuradora, inclusive as ameaças de morte feitas por Djalma e os fatos que levaram o casal ao processo de separação. De acordo com a petição feita pelo advogado Murilo Andrade, Ana Alice alegava ter descoberto, há três anos, que o marido tinha uma amante. Desde então o casamento ficou abalado. Ela tentou manter a união pensando nos filhos, mas, no começo do ano passado, Djalma viajou sem informar destino e passou um mês fora de casa, de acordo com os documentos.

O fato levou o casal a uma rotina de desentendimentos, que culminou com uma briga, no dia 22, no clube que frequentavam. Djalma viu a mulher passando uma mensagem pelo telefone celular e a ameaçou, querendo saber para quem era o texto. Sempre segundo os autos, a briga prosseguiu na casa dos dois, à noite, momento em que o empresário, transtornado, teria quebrado o telefone da mulher e o notebook que ela usava para trabalhar. Também teria se apoderado de um modem e de um pen drive com documentação pessoal de Ana Alice.

Na representação, as ameaças que teriam sido proferidas por Djalma estão entre aspas: ;Vou te dar um tiro na cabeça;; ;você é uma vagabunda;; ;vou te matar;. Adiante, o advogado da vítima descreve que em determinado momento, em casa, o empresário esquentou água no micro-ondas e jogou na direção de Ana Alice, atingindo-a parcialmente e a seu filho menor, embora sem gravidade. Ele também teria ameaçado colocar faixas ofensivas na rua onde a mulher trabalhava.

Diante dos argumentos, o juiz titular da Vara Criminal e da Infância e Juventude de Nova Lima, Juarez Morais de Azevedo, que tem 23 anos de magistratura, proferiu, já no dia 25, a seguinte sentença: ;Concedo-lhe as medidas protetivas de aproximação da ofendida e de seus familiares pelo agressor, que deverá manter o limite mínimo de 30 metros de distância deles, assim como fica proibido de entrar em contato com os mesmos por qualquer meio de comunicação, frequentar determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida. Quanto às demais medidas requeridas, considerando se tratarem de providências mais drásticas, designo o dia 15/02 de 2012, às 13h, para oitiva da ofendida e de seu ofensor. Intimem-se. Notifiquem-se;.

Anteontem, um oficial de Justiça conseguiu intimar Djalma, fato que, de acordo com o advogado Murilo de Andrade, que defendia Ana Alice, pode ter levado o empresário a cometer o crime. No mesmo dia, mas às 18h30, o juiz Juarez Morais expedia outra sentença, ampliando as medidas protetivas. Nessa última decisão, o magistrado determinava o afastamento imediato do suspeito da casa da família e que ele mantivesse pelo menos 500 metros de distância da mulher. Não houve tempo de intimar o acusado, que seria notificado na manhã de ontem. Às 4h30, Ana Alice estava morta.

BATE-BOCA

Segundo relato recebido pela polícia, Djalma discutiu com a mulher momentos antes do crime. Não era algo novo na rotina do casal, como indica o processo que tramitava no Fórum de Nova Lima. Amigos da procuradora garantem que ela costumava reclamar da agressividade do companheiro e das crises de ciúme, que não poupavam nem a relação dela com os filhos, os meninos de 3 e7 anos.

Militares que atenderam a ocorrência informaram que o empresário entrou no condomínio por volta das 20h30. Não há informações se Djalma foi direto para a casa da família ou se passou antes pela casa de sua mãe, vizinha à do casal. Na madrugada de ontem, apavorada com a discussão entre os dois, a babá das crianças se trancou no banheiro com os meninos, temendo o pior. Passados momentos de muitos gritos e confusão, a funcionária deixou o cômodo e encontrou a advogada ensanguentada no quarto, com várias perfurações, de acordo com a polícia. Segundo a PM, a saída do empresário se deu momentos depois, por volta das 4h30. No fim a noite de quinta-feira foi encontrado morto em um motel.

A crise

; O casal se conheceu há 19 anos, quando ela tinha 16, e ele estava casado havia 13.

; Ana Alice relatou ter descoberto, há três anos, que Djalma a traía

; Há um ano, segundo a mulher, o empresário saiu de casa dizendo que ia viajar. Passou um mês fora, sem informar o paradeiro

; Em 22 de janeiro, Djalma teve uma crise de ciúmes e agrediu a mulher verbalmente, quebrando objetos pessoais dela. Ele também teria esquentado água no micro-ondas e atirado contra Ana Alice, segundo relatou a vítima

; Em 24 de janeiro, acreditando que a situação atingira um limite insuportável, Ana Alice prestou queixa contra o marido na Delegacia de Nova Lima

; No dia seguinte, o juiz Juarez Morais de Azevedo decretou medidas protetivas em favor da advogada

; Na quarta-feira, Djalma recebeu de um oficial de Justiça as determinações do juiz

; No mesmo dia, o juiz ampliava as medidas protetivas, a pedido do advogado da vítima, que as considerou insuficientes. A notificação seria entregue na manhã de ontem

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