Agência France-Presse
postado em 07/02/2012 17:19
SALVADOR - O governo da Bahia, em uma corrida contra o tempo, iniciou as negociações com cerca de 200 policiais em greve que ocupam desde a semana passada a Assembleia da capital, a poucos dias da chegada de milhares de turistas para o Carnaval.O governador do estado, Jaques Wagner, afirmou nesta terça-feira que confia "em uma saída negociada" com os grevistas, cuja paralisação provocou uma onda de assaltos e o assassinato de mais de 100 pessoas em sete dias.
"Estamos no caminho de uma saída negociada (...) O Carnaval está chegando e eu tenho a convicção de que chegaremos a um acordo", declarou o petista Wagner, ao canal de televisão Globo News.
Milhares de turistas são esperados para festejar o Carnaval em Salvador, terceira maior cidade do Brasil, coração da cultura afro-brasileira e que faz uma das maiores festas de rua do mundo. São esperados três milhões de foliões em seis dias, do 16 ao 21 de fevereiro.
A embaixada americana no Brasil recomendou que os seus cidadãos adiem viagens não essenciais para a Bahia até o fim da violência, que afetou principalmente Salvador, uma das 12 cidades que sediarão a Copa do Mundo em 2014.
Além do aumento salarial, os grevistas reivindicam o perdão para os 12 líderes do protesto, contra quem a justiça expediu mandados de prisão, e uma anistia para o resto dos membros da Polícia Militar.
A Assembleia está cercada desde domingo por mais de mil soldados, liderados pelo general Marco Edson Gonçalves Dias, ex-chefe da segurança do ex-presidente Lula durante seus dois mandatos (2003-2010).
As negociações se estenderam até às 02h30 da manhã desta terça-feira e foram reiniciadas às 10h00, afirmou Wagner. O arcebispo de Salvador, Murilo Krieger, participa como mediador, informou o site G1.
Segundo o deputado Ivan Valente (PSOL), que conversou com os policiais grevistas na Assembléia, "o maior ponto de tensão é o mandado de prisão contra 12 líderes do movimento". Um deles foi preso no último sábado.
"Quando se negocia por tanto tempo significa que estamos no caminho certo", insistiu o governador Wagner, que se declarou disposto a conceder o aumento salarial "nível 4" exigido pela polícia, mas de forma gradual, em três anos. Este aumento representa cerca de 17% de aumento sobre o salário atual.
Inicialmente, o governo ofereceu aos grevistas um aumento de 6,5%, proposta recusada.
Apesar disso, Wagner se nega a conceder anistia aos policiais que cometeram "atos criminosos".
"Aqueles que violaram a lei, depredaram o patrimônio público, ameaçaram as pessoas dentro de ônibus, esses certamente terão que ser julgados (...) O que cria problemas é a violência de alguns que sobem em motos, atiram para o ar e andam encapuzados", reclamou o governador.
Atualmente, um policial militar nível 3 ganha de 1.900 a 2.300 reais por mês.
Segundo Wagner, nos últimos cinco anos, os PMs tiveram um aumento real de 30% do salário.
Na segunda-feira, houve confrontos entre manifestantes mobilizados em frente à assembleia e soldados, que dispararam balas de borracha e gás lacrimogêneo.
O retorno às aulas após as férias de verão, que era para acontecer na terça-feira na Bahia, foi adiado.
A greve policial desencadeou uma onda de saques e assaltos na Bahia, onde nos últimos sete dias houve mais de 100 mortes, segundo a secretaria de Segurança Pública, mais do dobro da semana anterior ao protesto.