postado em 28/02/2012 19:00
A coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Lucélia Donatti, disse nesta terça-feira (28) esperar que o governo federal ouça a comunidade científica antes de construir a nova base brasileira na Antártida.;Não importa que [a reconstrução] leve um, dois, ou três anos. Esperamos que a comunidade científica seja ouvida, consultada sobre a nova base;, disse a professora, que lamenta a descontinuidade dos projetos e a perda de material biológico, além de alguns equipamentos, no incêndio que destruiu, no último sábado (25), a Estação Antártida Comandante Ferraz. ;Há pesquisas, como a nossa, que não podem ser feitas em navios, dependem de uma base fixa;, ressaltou.
O reitor da UFPR, Zaki Akel Sobrinho, informou que deve conversar na próxima semana com o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, que irá a Curitiba. ;Vamos procurar ampliar o suporte ao programa, apesar das dificuldades orçamentárias;, disse Zaki.
Quatro pesquisadoras da UFPR ; Maria Rosa Pedreiro, aluna do mestrado em Biologia Celular e Molecular, Cíntia Machado, doutoranda em Biologia Celular e Molecular, Nádia Sabchuk, mestranda em Ecologia e Conservação, e Priscila Krebsbash, mestranda em Biologia Celular e Molecular ; que faziam trabalhos de campo na base brasileira, falaram hoje sobre o incêndio de sábado. Também participaram da entrevista coletiva a professora Lucélia Donatti e o reitor Zaki Akel Sobrinho.
[SAIBAMAIS];Aos poucos, [o fogo] foi atingindo módulo por módulo [da base] ao longo da madrugada, e eu preferi não ficar olhando. A dor de ver aquele local queimando foi muito grande;, contou Maria Rosa. ;Pela memória dos dois militares [o suboficial Carlos Alberto Vieira Figueiredo e o sargento Roberto Lopes dos Santos, que foram promovidos postumamente a segundo-tenente] que morreram, quero voltar para aquele lugar, até para mostrar que eles não lutaram em vão;, disse ela.
A principal área de pesquisa da Universidade Federal do Paraná, presente no território antártico desde 1984, é a de alterações climáticas e suas implicações em organismos vivos da região. Todo o trabalho da atual expedição do grupo, que retornaria ao Brasil no dia 10 de março, permaneceu na base. ;Mas temos material de expedições anteriores, análises que precisam ser feitas;, informou Maria Rosa.
As pesquisadoras disseram que todos os ocupantes da base são instruídos sobre como proceder em casos de acidentes desse tipo. ;A primeira coisa que a gente faz quando chega é receber instruções e participar de palestras sobre o que fazer em caso de algum problema;, afirmou Cíntia Machado. ;Tanto que fomos para o local adequado e, hoje, estamos todas bem;, completou.
A saída foi rápida e sem tumulto, lembrou Nádia. "Ficamos abrigadas em refúgios próximos. No começo do incêndio, ainda estávamos acordadas, conversando. Quando fomos avisadas, nós nos dirigimos à sala de estar, onde foi feita uma chamada para verificar se todos estavam lá."
Elas acompanharam a distância as tentativas de controle do incêndio e ficaram sabendo da morte dos dois militares cerca de três horas depois. ;Na hora, a gente estava com pouca roupa. Conseguimos chegar aos camarotes e pegar os nossos documentos, mas o restante se foi;, lamentou Priscila. ;No início, a gente ainda acreditava que o fogo seria controlado.;