postado em 21/03/2012 20:53
O primeiro banco de dados nacional sobre a população negra foi lançado nesta quarta-feira (21/3) em São Paulo. Resultado de uma parceria entre a Universidade Zumbi dos Palmares e as secretarias de Assuntos Estratégicos e Especial de Promoção da Igualdade Racial, o Observatório da População Negra vai reunir informações sobre mercado de trabalho, distribuição de renda, demografia, acesso à informação, habitação, estrutura familiar e educação.Por meio do observatório, serão promovidas ainda pesquisas sobre a população negra brasileira, que representa cerca de 51% da população total do país. ;É o maior banco de dados sobre negros no Brasil. Hoje ele se inicia com 50 mil informações, dos últimos 20 anos, e com perspectivas socioeconômicas que abrangem habitação, políticas públicas e mercado de trabalho, entre outros;, explicou José Vicente, reitor da universidade.
O lançamento do banco de dados marca as comemorações pelo Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, celebrado hoje (21). ;A ideia é reunir, em um único site, pesquisas, séries históricas e artigos sobre a questão racial no Brasil e iniciativas para a superação das desigualdades raciais no Brasil;, disse Eliane Barbosa da Conceição, professora da Universidade Zumbi dos Palmares e uma das pesquisadoras do observatório.
A reunião dessas informações em um portal, segundo ela, vai facilitar o trabalho de pesquisadores e também contribuir para a construção de políticas públicas voltadas para a população negra.
Os números do observatório mostram, por exemplo, que, apesar dos avanços da população negra em várias áreas, ainda há um hiato entre negros e o restante da população nas realizações mais valorizadas da sociedade. ;A história do Brasil nos últimos dez anos é de um avanço sem precedência nas realizações da população negra. Eles avançaram muito, mas o resto do Brasil avançou muito também. A questão que se coloca é em que medida eles avançaram mais rapidamente do que o resto da população brasileira;, disse o subsecretário de Ações Estratégicas da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Ricardo Paes Barros.
Segundo ele, na base econômica e social, em situações que envolvem desemprego, baixa renda e questões de falta de saneamento e água, por exemplo, o avanço da população negra foi mais acelerado. ;O que quer dizer que, cada vez mais, a pobreza no Brasil é bicolor, de 50% brancos e 50% negros;, ressaltou.
No entanto, nos postos, ocupações ou bens mais desejados na sociedade brasileira, a população negra avançou, mas avançou na mesma proporção que a população branca. ;Portanto, nesses postos mais desejados, a diferença entre brancos e negros no Brasil foi preservada no sentido de desigualdade.;
Um exemplo desse cenário é que, entre os brasileiros que ganham mais de dez salários mínimos, os negros representam apenas 20% desse total. A população negra também representa apenas 20% dos brasileiros que chegam a fazer pós-graduação no país. ;O Brasil talvez não tenha sido tão eficaz em gerar igualdade de oportunidade no topo da distribuição;, acrescentou.
Para Barros, esse panorama vai exigir ações afirmativas do governo voltadas para o topo dos bens, serviços, ocupações e posições mais valorizadas do país. ;Ela [ação afirmativa] pode ser importante porque leva à formação de uma elite negra, [de forma] mais acelerada.;
Em abril, o governo federal lançará o Programa Nacional de Ações Afirmativas. Segundo o secretário executivo da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial, Mário Lisboa Theodoro, o programa vai englobar ações afirmativas em três grandes áreas: trabalho, educação e de comunicação/cultura. ;Estamos montando esse programa. Ele está sendo pactuado com oito ministérios e deve ser levado à presidenta da República até o início de abril;, disse.
O objetivo do programa é promover a inserção dos negros nas áreas mais valorizadas da sociedade brasileira, onde ocorrem atualmente as maiores desigualdades. ;Nossa ideia é trabalhar na área de educação, principalmente [no ensino] superior e nas áreas onde esse diferencial não está sendo reduzido neste momento virtuoso do Brasil;.
Mais informações sobre o portal Observatório da População Negra podem ser encontradas no endereço http://www.observatoriodonegro.org.br/.