postado em 28/03/2012 17:46
O riso marcou toda a obra de Millôr Fernandes, a começar pelo próprio nome, um caso humorístico de erro cometido por um tabelião %u2013 o Milton se tornou Millôr, com acento circunflexo, porque o traço do %u201Ct%u201D foi parar em cima do %u201Co%u201D e o %u201Cn%u201D ficou parecido com um %u201Cr%u201D . A afirmação é do escritor Henrique Rodrigues, mestre em literatura brasileira pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e autor de uma dissertação sobre a obra do escritor: Millôr Fernandes: a vitória do humor diante do estabelecido.
Segundo o pesquisador, Millôr Fernandes consolidou uma forma humorística de se enxergar a realidade, sobretudo de forma crítica e irreverente, %u201Cno sentido de não se curvar, não prestar reverência ao pensamento cristalizado%u201D. Na avaliação de Rodrigues, o escritor carioca, falecido hoje (28), aos 88 anos, no Rio, mostrou em sua obra novas formas de se colocar diante da realidade, %u201Cem vez de se submeter a ela, rir dela e rir de si mesmo%u201D.
Outro traço marcante da obra literária de Millor Fernandes, de acordo com Henrique Rodrigues, foi seu caráter vanguardista. %u201CEle fazia poemas concretos, antes de existir o movimento concretista. Ele já escrevia de forma concisa e em frases curtas muitos anos antes de existir o computador e ferramentas como o twitter. A própria irreverência do Pasquim, do qual foi um dos fundadores, foi antecedida pelo Pif-Paf, uma coluna de humor político e contestatório que ele mantinha na imprensa%u201D.
O pesquisador lembra que, enquanto esteve na ativa como humorista, todos os presidentes da República foram caricaturados por Millôr, tanto no desenho quanto na escrita. %u201CNão só o poder político, como o poder da Igreja e o próprio poder da linguagem. Ele sempre se colocou ao lado, como se dissesse 'vocês não são tão sérios assim'%u201D, ressalta Rodrigues.[SAIBAMAIS]