Brasil

Brasileiro reconhece importância da leitura, mas prefere outras atividades

Agência France-Presse
postado em 01/04/2012 14:50
Brasília ; O brasileiro sabe da importância da leitura para progredir na vida, mas continua considerando a atividade desinteressante. Este é o principal diagnóstico da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada nesta semana pelo Instituto Pró-Livro. Foram entrevistadas mais de 5 mil pessoas em 315 municípios e os resultados apontam que apenas metade delas pode ser considerada leitoras. O critério é ter lido pelo menos um livro nos últimos três meses.

Entre os participantes, 64% concordaram totalmente com a afirmação ;ler bastante pode fazer uma pessoa vencer na vida e melhorar sua situação econômica;. Mas 30% disseram que não gostam de ler, 37% gostam um pouco e 25% gostam muito. Entre os não leitores, a principal razão para não ter lido nos últimos meses é a ;falta de tempo;, apontada por 53% dos entrevistados. No topo da lista aparecem também justificativas como ;não gosto de ler; (30%) ou ;prefiro outras atividades; (21%).

A professora Vera Aguiar, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), explicou que a falta de hábito de leitura no país é cultural. ;Nossa cultura é muito oral. Se a gente pensa na religião, nas festas como o carnaval ou nos esportes como o futebol, percebe que o brasileiro prefere atividades exteriores que envolvam muitas pessoas;, aponta a pesquisadora da Faculdade de Letras da PUC-RS.

Vera defende que mesmo sendo uma questão cultural, é possível mudar o quadro com ações de incentivo à leitura. Ela acredita que nas últimas décadas houve um incremento grande de programas voltados para o estímulo da leitura, mas as iniciativas ainda não tiveram o efeito esperado. ;Há várias iniciativas de vários setores da sociedade ; governos municipais, estaduais e federal, ONGs [organizações não governamentais], universidades ; mas mesmo assim é pouco. Essas ações precisam ser mais articuladas;.

Para Maria Antonieta Cunha, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e diretora do programa do Livro Leitura e Literatura do Ministério da Cultura, o brasileiro associa a leitura à obrigação e não ao prazer. Um trecho do estudo que evidencia essa tese são as respostas dos entrevistados à pergunta ;qual é o significado da leitura para você;. Mais de 60%, acham que ler uma ;fonte de conhecimento para a vida;, ;fonte de conhecimento para atualização profissional; (41%) e ;fonte de conhecimento para a escola; (35%). Para a professora, os resultados indicam que a maioria das pessoas não associa diretamente a leitura a uma atividade de lazer.

;A questão é que nós não temos a leitura como um valor social. A pessoa não conseguiu descobrir que a leitura trabalha, mais do que tudo, com a transcendência, que é o grande item do ser humano. É aquilo que diz Fernando Pessoa: a literatura é uma confissão de que a vida não basta;, disse Maria Antonieta durante o lançamento da pesquisa.

O estudo também demonstra que o hábito da leitura está conectado com a frequência à escola. Entre os que estudam estão apenas 16% do total da população de não leitores. Mesmo entre aqueles considerados leitores, a média de obras lidas é 1,4 para quem não está estudando ante 3,4 para quem estuda (considerando os últimos três meses). ;Que escola é essa que nós temos que não consegue desenvolver leitores para a vida inteira?;, pergunta Maria Antonieta.

A representante do Ministério da Cultura defende que as escolas e as bibliotecas, apontadas como um local desinteressante pelos entrevistados, precisam ter bons mediadores de leitura. ;São professores verdadeiramente capazes de fazer o olhinho do aluno brilhar ao ouvir uma história. Para isso o próprio professor precisa ser um apaixonado pela leitura;.

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