Brasil

Mobilização popular é uma diferença entre a Rio 92 e Rio+20, diz diplomata

postado em 20/04/2012 07:50
Rio de Janeiro - O embaixador aposentado Flávio Perri, que coordenou a Rio 92 - a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento - disse que uma das principais diferenças entre o encontro e a nova Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio%2b20), que ocorrerá em junho próximo no Rio, é que àquela época não havia uma mobilização popular como existe atualmente.

;A característica da Rio%2b20 é que não são apenas os governos, os presidentes e chefes de Estado que vão participar e assinar um documento principal. É toda a opinião pública;. Ele destacou que, pela primeira vez, o evento será transmitido em tempo real pela internet para todo o mundo. ;Milhões de pessoas vão ver o que se passa no Rio;. Essa distinção é muito importante, disse Perri, porque dá uma característica participativa à Rio%2b20.

Outra diferença entre as duas conferências, segundo o diplomata, é que não havia, em 1992, o conceito de desenvolvimento sustentável como existe hoje. Ele lembrou que esse conceito foi enunciado pela primeira vez no Relatório Brundtland, resultado de uma comissão independente constituída sob o comando da ONU e chefiada pela primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland. Apresentado em 1987, o relatório Nosso Futuro Comum propõe o desenvolvimento sustentável, que ;atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas necessidades;.

;Foi a primeira vez que a comunidade internacional admitiu esse conceito;, observou Perri, acrescentando que ele se consagrou na Rio 92. Segundo o diplomata, pela primeira vez esse conceito ;qualificou o substantivo desenvolvimento com o adjetivo sustentável e não reduziu a perspectiva de desenvolvimento;. Ele explicou que, ao contrário, deu mais segurança ao processo de desenvolvimento, ;para que ele se mantenha contínuo e permita que sejam produzidos bens que tragam bem-estar e vida digna para os seres humanos;.

Perri deixou claro, porém, que o conceito de desenvolvimento sustentável necessita do planeta e de tudo que ele possa fornecer para ser transformado em bens. ;O desenvolvimento depende do planeta. E para que ele continue verdadeiro e contínuo, é preciso que haja a sustentabilidade dos insumos que oferece;. O embaixador aposentado destacou que a conferência Rio%2b20 já parte desse conceito, que é bem aceito e reconhecido pela opinião pública e objeto de interesse de governos, empresas, indivíduos e grupos sociais.

Outra diferença é que a Rio 92, também chamada Cúpula da Terra, vinha negociar uma agenda com foco preciso. Chefes de Estado de todo o mundo foram ao Rio naquele ano para negociar os tratados sobre biodiversidade e clima e a Agenda 21, que Perri definiu como um modelo de convivência humana e de governabilidade firmado em 1992. ;A meu ver, esse é um instrumento central, resultante da Rio 92;.

Ele comentou que a Rio%2b20, ao contrário, foi convocada ;sem que houvesse uma linha de chegada, como havia na outra (conferência);. Referiu-se a uma negociação que resulte na assinatura de um tratado específico. Segundo Flávio Perri, o que a Rio%2b20 terá é uma declaração, que poderá ser muito importante se indicar novos rumos para o desenvolvimento sustentável ;até o fim do século ou além;.

O coordenador da Rio 92 avaliou que o rascunho da conferência, chamado documento zero, foi produzido a partir de sugestões dos governos e está ainda recebendo indicações informais a respeito desse novo rumo de desenvolvimento que deve ser seguido pelas nações. ;É uma nova forma de encarar o processo de desenvolvimento, que deve ser sustentável, respeitando os bens oferecidos pelo planeta como insumos para a produção;.

Perri deixou claro, entretanto, que a conferência não pode decidir as modificações, mas somente indicar o caminho, de maneira que a produção condicione um consumo também diferenciado. ;Esse é um ponto essencial na percepção do que poderá vir da conferência. É uma revisão dos métodos de produção, dos critérios para qualificá-la e também do consumo;. Para o coordenador da Rio 92, a nova conferência da ONU tem de estabelecer um patamar que torne possível a sobrevivência do planeta, que tem hoje cerca de 7 bilhões de habitantes.

Ele disse que ao reconhecer e respeitar os limites do planeta, será mais fácil balizar a produção que devemos ou podemos tirar, em termos de bens e insumos oferecidos, para a nossa sobrevivência. ;O que não é justo é que continuemos a explorar os insumos do planeta ; minerais, animais e vegetais ; em prejuízo de futuras gerações;, advertiu.

Esse é o novo modelo de ver a organização da sociedade. Isso significa também, apontou Perri, novas maneiras de articular as atividades dentro da sociedade, partindo dos governos e enviando mensagens à ação social. ;Por aí, vamos chegar talvez a um documento que poderá ter impacto e que irá encerrar a conferência;. Flavio Perri aposentou-se da diplomacia em 2009. Atualmente, é membro da Sociedade Nacional de Agricultura e da Academia Nacional de Agricultura.

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