postado em 13/05/2012 19:18
As cooperativas de trabalhadores tornaram-se nos últimos anos uma boa alternativa para milhares de brasileiros que encontram dificuldades para entrar no mercado de trabalho. A economia solidária, que passa praticamente despercebida por boa parte da sociedade, gera renda para 2,3 milhões de pessoas no país e movimenta, em média, R$ 12,5 bilhões por ano. Segundo levantamento da Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), existem no país 30.829 empreendimentos econômicos solidários e o faturamento deles chegou a 0,33% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2010 (R$ 3,7 trilhões).
Um bom exemplo de economia solidária é a Cooperativa de Catadores Autônomos de Materiais Recicláveis da Vila Esperança (Avemare), criada há seis anos por 40 pessoas, em Santana de Parnaíba, na Grande São Paulo, após a prefeitura fechar o lixão da cidade. Hoje, a Avemare tem 90 cooperados, que conseguem uma renda média mensal de R$ 1,5 mil.
Segundo Iraci Alves, de 57 anos, que deixou a Bahia há 19 anos com seus três filhos, a situação dela e dos cooperados melhorou muito após a criação da Avemare. %u201CVim buscando uma condição de vida melhor, mas acabei indo trabalhar no lixão de Santana de Parnaíba. Conseguíamos tirar nosso sustento, mas era uma situação muito perigosa para a nossa saúde%u201D, lembra. A história de Iraci é muito parecida com a da maioria dos associados.
A cooperativa começou reciclando 60 toneladas de materiais e, hoje, alcança uma média de 375 toneladas por mês, mas já teve pico de 500 toneladas, de acordo com Iraci. %u201CCom 60 toneladas não dá nem pra rodar uma esteira%u201D, relembra. Agora, a cooperativa conta com duas esteiras, além de empilhadeiras e prensadeiras, totalizando R$ 1 milhão de reais em equipamentos. %u201CA verba veio de parceiros, da prefeitura, mas também de investimentos próprios%u201D, diz. A cooperativa é responsável pela reciclagem de 12,5% das 3 mil toneladas de resíduos produzidos na cidade.
%u201CNo início, a principal dificuldade foi trabalhar em grupo, porque antes, no lixão, era cada um por si%u201D, lembra. As dificuldades encontradas no começo, no entanto, fazem com que a cooperada valorize ainda mais as conquistas alcançadas por meio da organização dos colegas catadores. Assim como Iraci, a maioria dos cooperados é formada por pessoas vindas de outros estados e com baixo nível de escolaridade.
%u201CAgora trabalhamos com itens de segurança, fazemos as refeições na cooperativa, temos uma creche municipal pertinho, temos horário fixo de trabalho e podemos sair para ir ao médico, se precisarmos, por exemplo%u201D, diz Iraci. Contribuição para Previdência Social e licença maternidade foram outros benefícios trabalhistas assegurados. %u201CNo lixão, as mulheres voltavam ao trabalho apenas um mês depois de dar a luz, porque precisavam do dinheiro para sustentar a família%u201D.
Iracilda Alves, de 28 anos, é filha de Iraci e começou a trabalhar no lixão aos 9 anos de idade, junto com a mãe e os irmãos. Ela conta que na cooperativa, mais do que conseguir seu sustento, se sente valorizada como profissional. %u201CAqui aprendi a usar computador e conquistei a casa própria. Jamais pensaria em voltar para o lixão. Por outro lado, não penso em sair da Avemare%u201D, diz.
Hoje, Iracilda é responsável pelo setor administrativo da cooperativa. Com o crescimento profissional, ela pensa em retomar os estudos, que foram abandonados na 8ª série do ensino fundamental, e se capacitar na área administrativa. Agora, ela pode ver as filhas Eduarda, de 7 anos, e Isabela, de 2, crescerem sem enfrentar as dificuldades pelas quais passou. %u201CElas vão ter uma infância completa e ter oportunidades de crescer com os estudos%u201D, comemora.
Atualmente, a cooperativa conta com um lista de espera de cerca de 200 pessoas interessadas em trabalhar lá. Um dos recém-chegados é Jonas dos Santos, de 35 anos, que chegou há apenas três semanas e comemora a vaga conquistada. %u201CAntes recebia mais ou menos R$ 500 como borracheiro e agora espero ganhar mais. Além disso, você ajuda a natureza, porque a cidade avança e acaba com tudo%u201D, disse o cooperado.
De acordo com a Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), houve um acréscimo de 88% de pessoas inseridas na economia solidária entre 2005 e 2011. O Ministério do Trabalho define a economia solidária como uma forma %u201Cdiferente de produzir, vender, comprar e trocar o que é preciso para viver. Sem explorar os outros, sem querer levar vantagem, sem destruir o ambiente. Cooperando, fortalecendo o grupo, cada um pensando no bem de todos e no próprio bem.%u201D