Brasil

Invisibilidade social é grande desafio para erradicar extrema pobreza

postado em 11/06/2012 08:32
O governo federal marcou para o dia 18 de junho a data de ascensão de 2 milhões de famílias brasileiras para cima da linha de pobreza. Nessa data, as famílias consideradas miseráveis (identificadas no Cadastro Único), com crianças até seis anos, começarão a receber o chamado Benefício de Superação da Extrema Pobreza para completar a renda domiciliar de R$ 70 per capita.

Restam, no entanto, mais 2 milhões de famílias, segundo projeção inicial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), feita à época da definição das metas do Programa Brasil sem Miséria. Alcançar essas pessoas é desafio para os três níveis de governo, que deveriam reverter a invisibilidade social que contribui para afastar setores da população brasileira das políticas públicas (como o Programa Bolsa Família), diz o psicólogo Fernando Braga da Costa, autor do livro Homens Invisíveis: Relatos de uma Humilhação Social.

Catadores no lixão da Estrutural: O governo estima que, até dezembro, 800 mil famílias em situação de extrema pobreza serão identificadas pela mobilização da busca ativa nos municípios

;A invisibilidade está presente de tal forma que se tornou algo normal. O fato de ser normal não quer dizer mais nada além do fato de que estamos habituados;, acrescenta. Para Costa, o Estado no Brasil está localizado de forma tão longínqua dos cidadãos que parece muito mais um jogo de esconde-esconde. ;O Estado não cuida dessas pessoas porque não há interesse humano nisso; e ;acaba prevalecendo o interesse de uma classe hegemônica dominante;.

O governo estima que, até dezembro, 800 mil famílias em situação de extrema pobreza serão identificadas pela mobilização da busca ativa nos municípios. Apesar de a meta estar antecipada em um ano, não há certeza se esse número (projetado pelo IBGE) esgota o índice de famílias miseráveis no país. A ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, admite a dificuldade de localização em função do perfil da população. ;Essas pessoas que ainda não recebem o Bolsa Família são as mais pobres dos pobres, precisam ser acolhidas pelo Estado e nós estamos indo atrás;, disse ela, em entrevista coletiva na semana passada para o balanço de um ano do Programa Brasil sem Miséria.



De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, a maioria das 687 mil famílias em situação de extrema pobreza e ainda não assistida por políticas públicas (localizadas no último ano pela busca ativa) está nos centros urbanos (75%), inclusive em cidades com mais de 100 mil habitantes (39%). ;Os miseráveis estão nas periferias ou mesmo nos centros velhos das grandes cidades. Esses sujeitos estão fora do sistema, mas tentando o tempo todo ingressar nele;, lembra Fernando da Costa.

Segundo ele, em contraste à dificuldade de percepção e lentidão do Estado, o mercado está atento às periferias. ;Os shoppings centers identificaram potencial de lucro;, disse, referindo-se à abertura de centros comercias em regiões habitadas por classes econômicas de menor poder aquisitivo na cidade de São Paulo.

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