postado em 28/06/2012 16:42
A audiência pública que debateu nesta quinta-feira (28/6) a volta da venda de remédios que não exigem receita médica, ao alcance do consumidor, dividiu opiniões da indústria de medicamentos e farmacêuticos. Desde 2010, farmácias e drogarias são obrigadas a vender medicamentos isentos de prescrição médica somente atrás do balcão. Com isso, os remédios deixaram de ficar expostos em gôndolas e prateleiras de livre acesso ao consumidor.Agora, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) coloca em discussão o fim da obrigatoriedade, depois de um estudo mostrar que a venda atrás do balcão reduz o poder de escolha do cliente na hora de comprar esses medicamentos, entre eles, antigripais e analgésicos.
Os farmacêuticos defendem a manutenção da regra. Para os profissionais, o acesso livre a remédios aumenta o risco de automedicação e de intoxicações, pois a maioria das pessoas desconhece os efeitos colaterais à saúde e reações adversas causadas pelos medicamentos isentos de prescrição médica. ;É um retrocesso. Não pode vender no supermercado, mas pode vender na farmácia sem orientação?;, perguntou em tom de queixa o presidente do Conselho Federal de Farmácia (CFF), Walter Jorge João, ao relembrar veto da presidente Dilma Rousseff ao comércio de remédios nas prateleiras dos supermercados.
[SAIBAMAIS]Na avaliação dos fabricantes de remédios, o brasileiro é informado o bastante para comprar medicamento sem a ajuda do balconista ou farmacêutico. Na maioria dos casos, o cliente teve orientação profissional antes de levar o produto para casa, disse Aurélio Saez, representante da Associação Brasileira da Indústria de Medicamentos Isentos de Prescrição (Abimip). ;Em 90% das compras de medicamentos isentos de prescrição médica nas farmácias, o consumidor já sabe o que levar porque já tinha ido à drogaria antes. Ele [consumidor] consegue ter autonomia para comprar;, alega.
Técnicos da Anvisa argumentam que a influência do balconista e do atendente na decisão do consumidor dobrou após a norma entrar em vigor. A venda de remédios livres de receita indicados por um funcionário da drogaria passou de 4,6%, em 2007, para 9,3%, em 2010, conforme estudo da consultoria privada IMS Health, que avalia o mercado farmacêutico. Segundo Dirceu Barbano, diretor-presidente da Anvisa, o consumidor tem encontrado dificuldade, por exemplo, em comparar preços dos produtos atrás do balcão. ;Essa medida [venda do remédio atrás do balcão] pode ter gerado mais distorções do que benefícios para quem compra. Não é o consumidor que tem escolhido se quer o remédio do laboratório A, B ou C;.
Na época em que norma foi aprovada, um dos argumentos da Vigilância Sanitária era coibir os casos de intoxicação. Os remédios de venda livre, no entanto, respondem por apenas 4% dos casos de intoxicação medicamentosa no país, conforme dados da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) citados por Barbano.